Norcoast inicia rotas de cabotagem no 1º trimestre de 2024
out, 23, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202342
A Norcoast, nova empresa de cabotagem formada pela Hapag-Lloyd e pela Norsul, deverá iniciar suas operações no primeiro trimestre de 2024, segundo o presidente, Gustavo Paschoa.
A companhia focada na movimentação de contêineres deverá contar inicialmente com quatro embarcações de 3.500 TEUs (medida equivalente a contêineres de 20 pés), que farão as rotas de subida e descida entre Paranaguá (PR) e Manaus, passando por Santos (SP), Suape (PE) e Pecém (CE).
“O mercado de cabotagem brasileiro não vê um novo entrante há 20 anos. Há muita demanda reprimida no país”, afirma Paschoa. “A joint venture traz a experiência da Norsul em cabotagem e a da Hapag-Lloyd no manuseio de contêineres”, diz o executivo.
As companhias chegaram a um acordo em 2022 e, neste ano, conseguiram as licenças necessárias. A Norcoast recebeu a aprovação da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) na quarta-feira (18) – era a última liberação que faltava.
Do lado da Norsul, da ideia do negócio surgiu em 2020, quando a empresa brasileira, que atua em cabotagem com cargas a granel, iniciou um processo de diversificação, impulsionada pelas discussões da nova legislação do setor, a chamada “BR do Mar”. No fim de 2021, começaram as conversas com a Hapag Lloyd, empresa de navegação global, que atua em 135 países.
“Os navios de longo curso estão aumentando de tamanho, então a cabotagem é cada vez mais importante para o armador de longo curso. É um mercado com potencial de crescimento grande.”
Hoje, o mercado nacional de cabotagem é dominado por três grupos, todos atrelados a companhias de navegação de longo curso: a Aliança (da Maersk), a Login (da MSC) e a Mercosul Line (da CMA CGM). Apesar de ter a Hapag -Lloyd como acionista, a Norcoast deverá prestar serviços a outros armadores e terá forte foco na demanda doméstica, diz Paschoa. A carga vinda de linhas de longo curso deverá responder por uma fatia de 20% a 30% do total.
A nova empresa se beneficiou das flexibilizações trazidas pela “BR do Mar”, vigentes desde o ano passado, segundo o executivo. A nova lei buscou estimular o mercado de cabotagem no país. Uma das medidas que ajudou a Norcoast foi a possibilidade de incorporar os quatro navios. Antes da lei, seria necessário que a companhia já tivesse uma frota brasileira para trazer embarcações “a casco nu” (que chegam sem tripulação a passam a ser operadas pela empresa). “Os navios terão tripulação 100% brasileira”, afirma.
Para além da operação de cabotagem, a Norcoast deverá oferecer serviços multimodais. “Vamos atuar em um raio de 400 km para dentro do continente. Em todos os portos em que atuamos, temos acordos operacionais com terminais portuários e estamos mobilizando depósitos de contêineres e armazéns para fazer a consolidação e desconsolidação da carga. Também montamos uma rede de 70 empresas de transporte rodoviário.”
A expectativa é que os volumes movimentados pela empresa tenham uma escalada ao longo dos próximos três anos e cheguem a um volume próximo a 200 mil TEUs por ano, em sua maturidade, considerando os cinco portos e todos os modais de atuação.
Para Paschoa, grande parte do crescimento da empresa virá de uma demanda reprimida do mercado, que não utiliza o modal por falta de capacidade. A ideia é capturar novos perfis de clientes.
“Há a expectativa de ampliar o leque de segmentos que usam cabotagem. Por exemplo, empresas do varejo, ou de menor porte. Além da questão da capacidade, o caminhão é uma opção mais simples. A cabotagem requer planejamento, porque os navios saem semanalmente. Acreditamos que empresas menores, com a ajuda de ferramentas digitais e de equipes dedicadas, podem passar a usar”, diz. Além disso, o grupo deve oferecer opções para aqueles que não enchem um contêiner inteiro, consolidando a carga de diferentes clientes.
Questionado sobre a situação de grave seca no Amazonas, que hoje impede a passagem dos navios, Paschoa afirma que, embora a empresa ainda não esteja em funcionamento, o tema é uma preocupação e a equipe já tem buscado se preparar para situações semelhantes no futuro.
“A Norcoast vai trazer uma expertise da Norsul para a operação de balsas, o que traz possibilidades para um planejamento no ano que vem. Hoje tentaram usar essa alternativa usando o terminal em Vila do Conde, mas a estrutura não tem capacidade, não adiantou muito”, diz.
Ele avalia que uma solução definitiva para a questão demandará ações também do poder público. “Temos que achar soluções como a dragagem regular do canal e opções de transbordo para mitigar e até neutralizar o efeito da seca que acontece todo ano, mas que neste ano foi recorde. Pela gravidade da seca, entendo que no ano que vem o planejamento vai ser melhor. Mas as secas vão continuar acontecendo e vão ser cada vez mais graves.”
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