Pacote deve encolher comércio com o Brasil, dizem economistas
dez, 15, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202346
O comércio entre o Brasil e a Argentina vai encolher em 2024. Esse será um dos efeitos colaterais do pacote de medidas anunciado na terça-feira pelo ministro da Economia, Luis Caputo. A previsão é de economistas que acompanham as relações bilaterais. Este ano, entre janeiro e novembro, empresas brasileiras venderam quase US$ 16 bilhões para o vizinho. Empresas argentinas exportaram US$ 11 bilhões para o Brasil.
O pacote ainda carece de detalhes. Mas pelo menos três medidas têm relação direta com o comércio exterior. A primeira, a desvalorização do câmbio oficial de cerca de 400 pesos por dólar para 800 pesos por dólar. A segunda medida, o aumento do imposto que incide sobre a compra de dólares para importação no câmbio oficial. O imposto vai de 7,5% para 17,5%. A terceira medida é a aplicação do imposto de exportação de 15% para todos os produtos. Até então, só exportações da agropecuária e da mineração eram taxadas.
“São medidas necessárias, mas vão ter um impacto negativo no comércio bilateral”, diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio-fundador da BMJ Consultores e Associados. Barral está desde julho em Bueno Aires, onde sua consultoria tem escritório e auxilia empresas brasileiras e multinacionais com negócios na Argentina.
Entre as muitas questões ainda em aberto, está a situação de empresas privadas que não conseguem acesso a dólares no câmbio oficial para pagar importações. É uma dívida de cerca de US$ 30 bilhões, diz Barral.
Ele destaca um ponto positivo do pacote: a promessa de facilitar o processo de licenças para importação. A obtenção dessas licenças tem sido uma dor de cabeça para muitas empresas na Argentina. Mas o economista diz ver com preocupação a incidência de impostos sobre as exportações e, em particular, os impostos mais salgados na compra de dólares para importações. “Vai aumentar o custo das importações e afetar as vendas brasileiras. A medida acabará funcionando como uma tarifa.”
Veja abaixo as principais exportações marítimas do Brasil para a Argentina entre janeiro de 2023 e outubro de 2023. Os dados são do DataLiner.
Exportações Marítimas Brasileiras para Argentina | Jan 2023 – Out 2023 | TEU
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Milei indica que as medidas serão temporárias. Devem vigorar, pelo menos, ao longo de 2024. A sinalização é que depois de um período de ajustes a economia estará mais equilibrada.
Até lá, governo e economistas preveem recessão, inflação ainda mais alta, mais pobreza e risco de turbulência nas ruas.
Livio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre) e sócio da consultoria BRCG, avalia que as exportações brasileiras e de outros países para a Argentina vão perder força não tanto pelos impostos.
“O ponto é que não vai ter demanda na Argentina. Se vai ficar mais caro para os argentinos, isso será menos relevante, questão é que não terá demanda”, diz. A Argentina é uma importadora importante de peças de carros e de carros do Brasil. Compra também minério de ferro e energia elétrica. Em função de uma seca histórica, importa desde o ano passado grandes volumes de soja.
“A demanda vai cair”, projeta também o presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Federico Servideo. “Ainda assim, existem oportunidades para empresas brasileiras investirem na Argentina, em áreas como energia, agroindústria, mineração, finanças e varejo”.
Ao falar de desvalorização, ele lembra que “o dólar real” já estava há tempos mais próximo dos 800 pesos por dólar e que empresas mais competitivas exportadoras tendem a sair ganhando. “O caminho está certo. A essência é tentar integrar mais a Argentina ao mundo, regularizar o câmbio, honrar compromissos. A grande pergunta é como tudo isso será feito e se haverá sustentabilidade política.”
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para acessar a matéria original: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/12/14/pacote-deve-encolher-comercio-com-o-brasil-dizem-economistas.ghtml
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