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Papeleiras cortam produção diante de importação em alta

dez, 21, 2023 Postado porSylvia Schandert

Semana202346

Os fabricantes brasileiros de papel cartão, usado em embalagens de remédios, alimentos e produtos de higiene e limpeza, sentiram a pressão do salto de quase 40% na importação em 2023. Nos últimos meses, grande parte da indústria promoveu paradas mercadológicas ou revisou metas de produção por causa da concorrência mais agressiva, em volume e preço, dos cartões importados.

No grupo das empresas médias e que não têm celulose própria, a Papirus parou o equivalente a 17 dias de produção. Com capacidade para 115 mil toneladas, vai vender 96 mil toneladas em 2023. Outros fabricantes de porte semelhante, como a MD Papéis, teriam feito o mesmo. “Hoje, a importação mensal representa quase o que duas empresas brasileiras podem produzir”, disse o co-CEO e diretor de marketing e comercial da Papirus, Amando Varella.

Para esses produtores não integrados, a concorrência com o importado é ainda mais dura, porque os preços da celulose no Brasil têm como referência o índice PIX europeu, mais elevado que o chinês. Boa parte das importações de cartão, afirmam essas empresas, vem justamente da China, mas também cresce o volume que chega da Europa e do Chile.

Entre as grandes e integradas, a Suzano antecipou para dezembro uma parada para manutenção que estava programada para o início do ano que vem. De janeiro a setembro, as vendas de papel cartão da companhia recuaram 15%, ficando perto de 123,7 mil toneladas.

“O impacto [da antecipação da parada] não é material. Mas a indústria vai ter de buscar um balanceamento entre demanda doméstica e exportação”, disse o diretor de papel e embalagem da companhia, Fabio Almeida.

O gráfico abaixo mostra a importação brasileira de papel cartão (código HS 4707; 4800; 4802; 4807; 4810) de janeiro de 2020 e outubro de 2023. Os dados são do DataLiner.

Importações Brasileiras de papel cartão | Jan 2020 – Out 2023 | TEU

 Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

Maior do setor, a Klabin não parou máquinas, mas tem usado a recém-inaugurada MP 28, em Ortigueira (PR) para fazer papel kraftliner e não cartões, que será sua principal vocação. “Acabamos de colocar em operação uma máquina de 450 mil toneladas por ano. Poderíamos estar mais agressivos no mercado interno, mas não está atrativo concorrer aqui”, comentou o diretor comercial de papéis da companhia, José Soares.

No acumulado do ano até setembro, as vendas da Klabin, que tem maior exposição ao mercado de alimentos e bebidas e um portfólio mais diversificado de cartões, caíram 3%, a 507 mil toneladas, acompanhando a acomodação da demanda.

Da falta de produto vista no auge da pandemia, o mercado nacional de cartões assiste, agora, ao excesso de oferta. Novas fábricas na Ásia e desaceleração da demanda – importante cliente do segmento, a indústria farmacêutica não teve um ano brilhante no país – desequilibraram o mercado doméstico, onde a capacidade instalada desse tipo de papel supera o consumo, de 650 mil a 700 mil toneladas por ano.

Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), que reúne produtores de celulose e papel, as importações de cartão saltaram 39,7% entre janeiro e outubro, para 102 mil toneladas. No mesmo período, a produção local recuou 7,2%, a 563 mil toneladas, e as vendas domésticas cederam 3,9%, a 498 mil toneladas. Somente em outubro, as compras externas cresceram 62,5% na comparação anual.

Preços aparentemente abaixo dos praticados no mercado de origem também chamaram a atenção da indústria local. A leitura, principalmente no caso do papel asiático, é que não faz sentido econômico que o cartão produzido com celulose que custa US$ 650 por tonelada chegue ao Brasil por apenas US$ 750 por tonelada, mesmo com a normalização dos valores de frete.

Ainda assim, não está nos planos levar uma reclamação de dumping ao governo federal. Para conter o avanço dos importados, um grupo de trabalho constituído no âmbito da Ibá avalia pedir a Brasília o aumento da alíquota de importação para 25%, a exemplo do que outros setores que vêm sofrendo com o avanço das importações, como as siderúrgicas, já fizeram.

Fonte: Valor Econômico

Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/12/21/papeleiras-cortam-producao-diante-de-importacao-em-alta.ghtml

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