Paraguai: acordo com UE sai agora ou Mercosul vai negociar com a Ásia
set, 26, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202339
O presidente do Paraguai, Santiago Peña, deu um ultimato à União Europeia (UE) em relação ao acordo com o Mercosul, num gesto que o Palácio do Planalto nega ter sido combinado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista ao jornal Financial Times, o presidente paraguaio advertiu que o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE, há muito adiado, precisa ser concluído até 6 de dezembro ou os latino-americanos se afastarão e negociarão com países asiáticos.
Segundo o jornal inglês, o presidente do Paraguai, que estava em Nova York para a Assembleia Geral da ONU, disse que havia definido com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que se o acordo com a UE não fosse finalizado até o momento em que Lula lhe entregasse a presidência rotativa do Mercosul no início de dezembro, Peña interromperia as negociações.
Em Brasília, a assessoria de imprensa da presidência da República disse que ‘não houve combinação’ para Peña dar essa declaração. O ultimato paraguaio é visto como muito mais a expressão de uma vontade de concluir enfim o acordo do que uma ameaça para valer.
Ao mesmo tempo, há efetivamente a percepção nos dois lados, no Mercosul e na UE, de que o acordo ou sai agora ou vão perder o ‘momentum’, sem muita clareza dos passos mais adiante, já que haverá eleições para o Parlamento Europeu no ano que vem, incertezas na Argentina e outros fatores que podem complicar ainda mais futuras discussões.
Ainda assim, a posição de alguns países membros da UE, como França e Áustria, pelo menos publicamente continua não ajudando um avanço nas negociações.
Um problema é que o presidente francês Emmanuel Macron continua numa posição politicamente frágil para dobrar o protecionismo agrícola francês, apesar de todo o discurso de que a negociação com o Mercosul tem crescente importância geopolítica.
Já setores industriais na Europa, especialmente na Alemanha, defendem flexibilidade por parte da UE para fechar o acordo birregional o mais rápido possível, justamente para não perder mais espaço na América do Sul.
A verdade é que a importância do acordo Mercosul-UE é inegável. O volume do comércio do Mercosul com a Ásia já maior do que com a Europa e continuará assim. O Mercosul já vende muito para a Ásia sem precisar de acordo preferencial. E não seria com países asiáticos que o bloco do cone sul fecharia um acordo tão abrangente, de quarta geração, como o que está na mesa com a Europa.
Além disso, basta ver que uma orientação hoje de grandes empresas é de sair da China. Quando isso acontece, parques produtivos precisam ser reposicionados. E justamente o acordo UE-Mercosul prevê facilidades para investimentos transfronteiriços entre os signatários. Para uma empresa europeia saindo de país asiático, poderá ter com o acordo UE-Mercosul um ambiente de negócio bem mais favorável. E tudo isso é importante para neoindustrialização no Mercosul.
Entrar os asiáticos, somente a China e o Japão são grandes investidores no Mercosul. A Europa tem mais capacidade de investir. Também há fundos soberanos de peso concentrados na Europa, que buscam colocar dinheiro fora da China.
Quando a conclusão do acordo UE-Mercosul foi anunciada em 2019, o Japão foi um dos países que imediatamente aumentou o interesse em negociar um entendimento preferencial com o bloco do cone sul. Ou seja, passa pelo acordo UE-Mercosul também atrair futuros parceiros nesse tipo de entendimentos.
No momento, o bloco do cone sul só tem negociações com Singapura. Uma negociação com a Coreia do Sul não avança. Não há planos atualmente de abertura de negociações com blocos asiáticos, como Asean, a Associação das Nações do Sudeste Asiático, presidida pela Indonésia.
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