Potência em minério, Brasil precisa superar gargalos
jun, 25, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202427
Com US$ 64,5 bilhões em investimentos estimados até 2028 e reservas que estão entre as maiores do mundo, o setor mineral coloca o Brasil na dianteira da corrida global pelo fornecimento de metais e insumos críticos para a transição energética. Mas há gargalos que podem comprometer essa posição, mostra estudo da EY, intitulado “A atratividade do setor mineral brasileiro”.
Conhecimento ainda limitado de sua riqueza mineral, com apenas 27% do território mapeado pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB), complexidade do marco regulatório, morosidade do processo de licenciamento ambiental e limitações à captação de recursos financeiros, sobretudo pelas mineradoras menores (conhecidas como “juniors”), aparecem como principais desafios do setor.
“O Brasil é uma potência mineral, não só do futuro, mas do presente. O cenário é auspicioso do ponto de vista da demanda, mas há pontos de atenção do lado da oferta. É preciso ter condições de investimento”, disse ao Valor o líder de energia e recursos naturais da consultoria, Afonso Sartorio, coautor do estudo, que é assinado também pelo diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann.
Com mais de sete mil empresas instaladas, incluindo grandes nomes da mineração (as “majors) nacionais e internacionais, o Brasil se destaca no cenário global, entre outros motivos, pelo tamanho de suas reservas e produção. Além da fortaleza em minério de ferro – a segunda maior reserva do mundo -, o país aparece no ranking dos maiores em nióbio, grafita, terras raras, manganês e níquel, aponta o estudo.
O gráfico abaixo mostra o volume de exportação de minério de ferro do Brasil entre janeiro de 2021 e abril de 2024, segundo dados DataLiner da Datamar.
Exportações de minério de ferro do Brasil | Jan 2021 – Abr 2024 | WTMT
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Muitos desses minerais, afirmou Sartorio, terão demanda global crescente com a transição energética, abrindo novas oportunidades para o setor. Carros elétricos, por exemplo, tem quase seis vezes mais quantidade de minerais críticos, cerca de 200 quilos, que os automóveis com motores a combustão. Estruturas solares e de geração eólica também levam esses insumos. Conforme o estudo, enquanto a demanda global de lítio pode crescer até 42 vezes até 2040, a de grafita deve subir 25 vezes e a de terras raras, 7 vezes.
Mas o Brasil precisa estar preparado, do ponto de vista da oferta, para atender a esse mercado. Embora o plano de investimentos do setor seja robusto, está apenas em linha com o que se vê em outras partes do globo – o que não é suficiente para um país com pretensões de potência global, conforme Sartorio. “Se o Brasil não investir, outros países o farão.”
O primeiro desafio mapeado pelo estudo, que pode jogar contra futuros investimentos, é o baixo conhecimento geológico em relação a outros países mineradores, como Canadá e Austrália, que contam com mapeamento mais abrangente e são mais ágeis no compartilhamento dessas informações, muitas vezes oferecendo incentivos à iniciativa privada para atuar nessa frente junto com os órgãos de governo. Por aqui, somente 27% do território está mapeado na escala mínima (1:100.000) adequada para início de um projeto de prospecção mineral.
De acordo com Sartorio, o governo tem feito alguns avanços, via benefícios fiscais ou ampliação de acesso à informação, mas é preciso ir além. “Se conseguir isso, o país vai ser mais atrativo, porque os investidores terão mais facilidade em entender sua potencialidade.”
O Brasil é uma potência mineral, não só do futuro, mas do presente”
Na fase exploratória, as grandes mineradoras, como Vale, Anglo American, Kinross, Gerdau e CSN, respondem por 56% dos investimentos executados no país. As “juniors”, mais focadas em exploração, também têm investido, mas o volume de recursos destinados à pesquisa de novas áreas está aquém do feito em outros países.
Essa diferença por ser explicada pelo custo de captação mais elevado para as mineradoras menores, até em função do risco – as “majors” captam recursos com custos 35% menores e prazos mais longos. “Deveria haver mais instrumentos para essas empresas”, disse, acrescentando que a iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Vale, de constituir um fundo destinado a projetos de empresas menores, é positiva.
Condições menos atraentes para a captação doméstica de recursos se reflete ainda na origem do dinheiro que tem sido aplicado aplicado em projetos de exploração: menos de 1% do total foi levantado internamente em 2023. Nos últimos três anos, as empresas brasileiras de mineração captaram um total de US$ 9,6 bilhões, dos quais 81% em dólares. Na China, esse valor chegou a US$ 327 bilhões e no Canadá, a US$ 68,6 bilhões.
Do lado do marco regulatório, a constatação é que os processos de outorga e licenciamento são mais demorados no Brasil do que em outros países produtores. Já houve alinhamento aos critérios internacionais e melhorias, mas ainda há mais a fazer. A expectativa, agora, gira em torno da publicação do Plano Nacional de Mineração 2050.
Fonte: Valor Econômico
Texto original disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/06/24/potencia-em-minerio-brasil-precisa-superar-gargalos.ghtml
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