Preços dos ovos disparam enquanto Brasil busca oportunidade de exportação para os EUA

Os preços dos ovos no Brasil atingiram níveis recordes. Em Bastos, o principal polo produtor de ovos do país, no estado de São Paulo, o preço dos ovos brancos subiu mais de 20% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Esalq/USP. Para os consumidores, o aumento chega a 40%, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).

A alta nos preços está ligada a uma escassez de oferta, após quase um ano de pressão para a queda nos preços dos ovos. Isso levou a um ajuste na produção no início do ano, afirmou Cláudia Scarpelin, pesquisadora do mercado de ovos do CEPEA.

No quarto trimestre de 2024, a produção de ovos no Brasil foi 11% maior do que no mesmo período de 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento da oferta causou uma queda prolongada nos preços. No entanto, a produção mais baixa no início de 2025, combinada com o aumento da demanda com o fim das férias escolares, levou os preços a subir novamente.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) atribui o aumento nos preços a fatores sazonais, especialmente o aumento da demanda antes e durante a Quaresma. A associação espera que os preços se estabilizem após esse período.

De acordo com a ABPA, os custos de produção também aumentaram drasticamente, com o preço do milho subindo 30% nos últimos oito meses e o custo das embalagens de ovos mais do que dobrando. O calor extremo agravou a situação, pois as altas temperaturas reduzem a produtividade das galinhas poedeiras.

O gráfico abaixo exibe o comportamento mensal dos embarques de ovos exportados pelo Brasil entre janeiro de 2021 e dezembro de 2024. Essas informações foram derivadas do DataLiner, um produto de inteligência marítima alimentado pela Datamar.

Exportações de ovos | Brasil | Jan-Dez 2021 vs Jan-Dez 2024 | TEUs

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

Escassez nos EUA

A inflação dos preços dos ovos não é exclusiva do Brasil. Os Estados Unidos estão enfrentando uma crise de oferta devido a um surto de influenza aviária altamente patogênica (H5N1). Desde que a epidemia começou em fevereiro de 2022, a gripe aviária foi detectada em todos os 50 estados dos EUA, levando ao abate de mais de 23,5 milhões de galinhas poedeiras.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informa que o fornecimento de ovos permanece “muito limitado a moderado, com poucos sinais de melhoria a curto prazo”, enquanto os produtores lutam para repor seus plantéis.

De acordo com o Bureau de Estatísticas do Trabalho dos EUA, os preços dos ovos em janeiro de 2025 dispararam 96,4% em relação ao ano anterior, subindo de US$ 2,52 para US$ 4,95 por dúzia. Em comparação com dezembro de 2024, os preços aumentaram 19%, de US$ 4,15 para US$ 4,95 por dúzia.

Com a escassez de oferta nos EUA, produtores globais de ovos estão de olho em oportunidades para preencher a lacuna. O presidente da ABPA, Ricardo Santin, afirma que o Brasil tem capacidade para aumentar as exportações sem prejudicar o abastecimento interno, uma tendência que deve se tornar mais clara nos próximos meses. No entanto, embora as exportações de ovos do Brasil tenham aumentado em janeiro, elas ainda representam menos de 1% da produção nacional total.

Marcus Menoita, CEO da Raiar Orgânicos, vê o mercado dos EUA como uma oportunidade atraente. “O preço é tentador”, disse ele. No entanto, ele acrescentou que “o mercado ainda está fora de alcance” porque o Brasil não possui acordos sanitários para exportações de ovos em larga escala, particularmente para ovos com casca.

Santin, no entanto, observa que as negociações para expandir as aprovações sanitárias estão “no meio do caminho”, com os Ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores do Brasil trabalhando na questão enquanto aguardam uma resposta do governo dos EUA.

Enquanto isso, o Brasil viu um aumento nas exportações de ovos para usos alternativos, como ração para animais de estimação, que enfrentam menos restrições sanitárias. O Ministério da Agricultura não respondeu às solicitações de comentário.

Produtores brasileiros de ovos também estão explorando oportunidades para fornecer outros mercados que anteriormente dependiam dos EUA para suas importações.

Por Gabriella Weiss, Globo Rural — São Paulo

Fonte: Valor Internacional

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