Preços em queda e aumento das importações indicam redução do superávit comercial
ago, 07, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202432
As exportações totalizaram US$ 198,2 bilhões de janeiro a julho, um crescimento de 2,4% em comparação ao mesmo período de 2023. As importações cresceram ainda mais, 5,6%, totalizando US$ 148,6 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Nos primeiros sete meses de 2024, a balança comercial registrou um superávit de US$ 49,5 bilhões, 6,1% inferior ao mesmo período de 2023.
Em um relatório recente, a consultoria Capital Economics observa que o forte aumento das exportações brasileiras e a expansão do superávit comercial desde 2019 têm sido fundamentais para a economia. No entanto, isso pode mudar em breve e alimentar projeções de desaceleração econômica e maior pressão do dólar sobre o real nos próximos dois anos, aponta a consultoria.
“As exportações do Brasil têm se destacado desde a era pré-pandemia. O valor das exportações em dólares no ano passado foi cerca de 54% maior do que em 2019, um dos maiores aumentos vistos em mercados emergentes”, diz o relatório. De acordo com essa análise, o cenário é uma combinação de preços—especialmente de commodities—e volumes, que aumentaram quase 18% de 2019 a 2023.
O forte aumento das exportações e a queda nas importações em 2023 levaram a um crescimento substancial do superávit comercial, que alcançou US$ 98,9 bilhões no final do ano. A perspectiva, no entanto, é de uma desaceleração para um superávit de US$ 86,5 bilhões neste ano e de US$ 79 bilhões em 2025, segundo uma projeção da consultoria BRCG.
A Capital Economics alerta que “a crescente dependência das exportações brasileiras em commodities é um mau presságio para as perspectivas futuras.” A consultoria acredita que a queda nos preços do minério de ferro—cerca de 2% este ano—ainda não chegou ao fim, dado o desaquecimento no setor de construção na China. A isso se soma a expectativa de queda nos preços do petróleo, com o aumento da oferta global ao longo do ano.
“O boom das exportações do Brasil provavelmente chegará ao fim. Embora o nível de exportações continue historicamente alto, não está mais crescendo anualmente”, disse William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics.
“Acreditamos que os níveis [de exportações] cairão novamente. Nossa estimativa é uma redução de 15% a 20% no valor das exportações em dólares até o final de 2025, em comparação com o nível atual, com base em nossas expectativas de queda nos preços de commodities exportadas pelo Brasil, como minério de ferro, petróleo e soja.”
Jackson afirma que a balança comercial dependerá do comportamento das importações no curto prazo. “Com uma demanda interna forte, impulsionada por um mercado de trabalho apertado, é mais provável que as importações não caiam e o superávit comercial diminua”, disse ele.
A tendência para as importações no próximo ano é desconhecida, disse Lívio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
“Olhando para 2025, vemos dois grandes debates. O primeiro é sobre o que acontecerá com as exportações. Vemos a economia chinesa enfrentando retrocessos, mas também um aumento nas exportações de petróleo”, disse ele. “No entanto, a grande questão permanece sobre as importações. Por um lado, a economia tem mostrado demanda superior à oferta, o que significa aumento das importações. Por outro lado, temos uma questão complexa no mercado de combustíveis.” Ribeiro questiona quanto tempo a Petrobras conseguirá manter o nível de subsídio no mercado interno, atualmente estimado em 20%.
Ele aponta que, este ano, o pico na balança comercial em 12 meses foi observado em fevereiro, quando alcançou US$ 105 bilhões. Em julho, caiu para US$ 95,7 bilhões.
“Vimos algumas surpresas de curto prazo. A primeira foi um desempenho das exportações mais forte do que o esperado, especialmente em termos de volumes”, aponta ele. “Também temos uma aceleração nas importações.”
Parte disso, segundo Ribeiro, se deve à importação antecipada de bens de consumo duráveis, como veículos elétricos da China, que fizeram do Brasil o principal importador mundial de EVs chineses.
Até o final do ano, a estimativa é de que a situação atual continue, mas para 2025 o cenário permanece incerto, disse Lia Valls, pesquisadora de economia aplicada do Ibre-FGV responsável pelo Indicador de Comércio Exterior (Icomex).
“Não esperamos muitas mudanças no curto prazo. Temos antecipado menores exportações este ano em comparação ao ano passado, quando tivemos eventos distintos, incluindo grandes exportações de soja para a Argentina. Portanto, temos uma base de comparação mais alta”, aponta Valls.
Ela observa que, em volume, as exportações subiram 11,6% no mês passado, em comparação com julho de 2023, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX/MDIC). Nos primeiros sete meses do ano, houve um aumento de 6,6% em comparação ao mesmo período de 2023.
No ano passado, os aumentos foram ainda mais fortes. Em julho de 2023, comparado a julho de 2022, o aumento foi de 13,3%, segundo dados do Icomex do Ibre-FGV. Nos primeiros sete meses do ano passado, o crescimento foi de 9%, em comparação com o mesmo período em 2022.
O próximo ano pode ver uma desaceleração, mas as variáveis permanecem incertas, diz ela.
“Isso dependerá principalmente da situação geopolítica. Por exemplo, as eleições nos EUA em novembro. Donald Trump impõe um protecionismo aberto, o que poderia afetar o comércio global, enquanto os democratas enfatizam o friendshoring e o nearshoring, indicando que querem estar mais próximos de seus aliados”, disse ela.
“O desenrolar da guerra Rússia-Ucrânia também é um elemento importante, já que um agravamento pode impactar o mercado global de energia e levar a um novo aumento nas exportações de petróleo brasileiro”, acrescenta. Uma desaceleração mais forte da economia chinesa poderia ter um impacto relevante nos embarques brasileiros. Regionalmente, Valls aponta que uma recessão prolongada na Argentina é uma fonte de preocupação para as exportações brasileiras.
“O país é nosso principal parceiro comercial na região e certamente não se recuperará no próximo ano”, disse ela. “Isso é ruim porque não conseguimos facilmente compensar vendendo o que exportamos para a Argentina para outros países da América do Sul.”
O fato de as exportações brasileiras serem altamente dependentes de commodities torna o país vulnerável a eventos fora de seu controle, argumenta Jackson.
Como exemplo, ele cita eventos climáticos que impactam a produção agrícola, decisões da OPEC+ que afetam a oferta de petróleo e os preços no mercado internacional, e a fragilidade do setor imobiliário da China com efeitos colaterais nos preços dos metais.
Fonte: Valor Internacional
Clique aqui para ler o texto original: https://valorinternational.globo.com/economy/news/2024/08/07/falling-prices-higher-imports-indicate-reduced-trade-balance.ghtml
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