Presidente eleito do Paraguai diz que negociações UE-Mercosul devem ser interrompidas

O bloco comercial Mercosul da América do Sul e a União Europeia estão à beira de abandonar as negociações em torno de um acordo de livre comércio devido às atuais exigências ambientais da UE, que foram consideradas “inaceitáveis”, segundo o presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, em declarações à Reuters.

Peña, que assumirá o cargo na próxima semana, afirmou que as propostas apresentadas pelo bloco europeu prejudicariam o progresso econômico do Paraguai, um grande exportador de soja. Ele enfatizou que as demandas da UE colocariam em risco o desenvolvimento do país, o qual integra o Mercosul juntamente com Brasil, Argentina e Uruguai.

Os comentários de Peña, os mais contundentes até agora em relação às negociações comerciais, após sua vitória nas eleições de abril, ressaltam as tensões crescentes entre os blocos europeu e sul-americano na corrida para finalizar um acordo que tem sido adiado devido a preocupações sobre os compromissos climáticos do Brasil.

A Comissão Europeia, que é o órgão executivo da UE, afirmou estar comprometida em concluir o Acordo UE-Mercosul até o final deste ano.

Os países sul-americanos, que abrigam vastas áreas da Amazônia, a floresta do Chaco e ecossistemas úmidos cruciais, são também importantes exportadores de soja, milho e carne bovina. Eles têm se mostrado cada vez mais resistentes às exigências ambientais da UE, argumentando que estas equivalem a um protecionismo europeu e prejudicariam a produção local.

“Essa abordagem da UE é absolutamente inaceitável”, disse Peña, de 44 anos, representante do partido conservador Colorado, em uma rara entrevista concedida em sua residência em Assunção.

“O que a União Europeia precisa fazer é esclarecer se está realmente interessada em prosseguir com um acordo de livre comércio. Hoje, questiono se eles têm um interesse genuíno nisso.”

Os representantes do Mercosul estão atualmente elaborando uma contraproposta para ser discutida com os negociadores da UE. Ainda há alguma esperança de que um acordo comercial possa ser alcançado ainda este ano.

“Na nossa perspectiva, as negociações deveriam ser encerradas e uma decisão simplesmente tomada: queremos que isso aconteça ou não?”, acrescentou Peña.

A Comissão Europeia explicou que suas propostas visam lidar com questões de sustentabilidade, incluindo o desmatamento. Eles aguardam por ideias alternativas vindas do Mercosul.

Peña afirmou que não planeja implementar novos impostos sobre o setor agrícola, que é o motor econômico do terceiro maior exportador global de soja. Ele indicou que até mesmo alguns impostos relacionados ao comércio internacional podem ser eliminados para ampliar a competitividade.

“O Paraguai precisa consolidar o modelo atual de baixa tributação para atrair investimentos e fomentar o emprego”, afirmou. “Talvez no futuro, com uma economia mais formalizada… possamos considerar fazer alguns ajustes em determinadas taxas.”

Quanto ao atual ministro da Agricultura, Santiago Bertoni, que conta com o apoio da Câmara da Soja do país, Pena afirmou que ele tem realizado um “bom trabalho” e pode permanecer em seu cargo.

Fonte: Reuters

Para ler a matéria original, acesse: https://www.reuters.com/world/paraguay-president-elect-eus-environmental-demands-trade-talks-unacceptable-2023-08-08/

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