Quebra argentina faz Brasil buscar trigo russo
nov, 18, 2022 Postado porSylvia SchandertSemana202246
Uma seca severa, seguida por vários episódios de geada, deverá reduzir em 40% a colheita de trigo na Argentina em relação às estimativas iniciais, para cerca de 12 milhões de toneladas. Como o Brasil é o maior destino do cereal do país vizinho, com compras próximas a 6 milhões de toneladas por temporada, especialistas preveem que os moinhos nacionais, principalmente os do Nordeste, precisarão recorrer a outras origens, como Rússia e EUA.
Apesar de as perspectivas indicarem um aumento das importações de outros países apenas a partir de maio de 2023, alguns moinhos nordestinos já se anteciparam e diversas fontes confirmaram a chegada de sete navios com cereal russo ao Brasil nos próximos meses. “A quebra de safra já fez o preço do trigo argentino subir em uma época incomum, perto da colheita. Assim, moinhos do Nordeste começaram a comprar cereal russo, que está mais barato”, diz Christian Saigh, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Trigo de São Paulo (Sindustrigo).
No dia 16, o trigo disponível FOB (sem custos de importação) na Argentina custava US$ 370 a tonelada, em média, enquanto o russo saia por US$ 330. O produto francês/europeu chegava a cerca de US$ 350, e o americano ou canadense, a US$ 430.
A colheita argentina começa neste mês e se estende até janeiro. Usualmente, o comércio com o Brasil se intensifica no começo do ano e, por isso, Saigh acredita que o volume disponível para exportação no país vizinho vai acabar perto de maio. “A guerra na Ucrânia fez outros países enxergarem a Argentina como fornecedora de trigo, então o Brasil tem mais concorrência”.
Luiz Carlos Pacheco, analista e sócio da T&F Consultoria, lembra que é difícil saber quanto a Argentina tem disponível no momento, porque a cota para exportação liberada pelo governo se refere ao volume que as tradings podem comprar, e não ao que efetivamente saiu do país. “Da cota de 10 milhões de toneladas, foram negociadas 8,5 milhões, que já pagaram imposto. Mas isso não significa que esse volume já chegou a algum destino externo”, afirma.
Queda nas estimativas
Na semana passada, a Bolsa de Rosário reduziu sua previsão para a colheita argentina em 2022/23 em 1,9 milhão de toneladas, para 11,8 milhões. Na semana anterior, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires já havia baixado sua estimativa em 1,6 milhão de toneladas, para 12,4 milhões. O cálculo inicial para a temporada era de 20,5 milhões de toneladas de trigo.
Veja abaixo o histórico do volume de trigo (hs 1001) importado para o Brasil entre janeiro de 2019 e setembro de 2022. Os dados são do DataLiner.
Importação de trigo – Brasil | Jan 2019 – Set 2022 | WTMT
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Apesar desse cenário, duas questões podem fazer com que a necessidade de importação brasileira seja menor do que em outros anos. A primeira é que o Brasil terá uma safra recorde de trigo, com 9,5 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso permitirá um rearranjo interno do cereal, que deverá migrar do Rio Grande do Sul para Paraná (onde houve também uma quebra de safra) e São Paulo.
Outro ponto é que os moinhos deverão moer menos trigo este ano do que em 2021, por causa de uma redução no consumo.
Retração de consumo
Saigh, do Sindustrigo, observa que toda a indústria sente essa retração no consumo após os picos durante a pandemia, em 2020 e 2021. O Brasil importou 4,6 milhões de toneladas entre janeiro e setembro, ante 4,9 milhões de toneladas no mesmo período do ano passado.
Daniel Kummel, CEO do Moinho Arapongas e presidente do Sindicato da Indústria de Trigo do Paraná (Sinditrigo-PR), lembra que o Brasil tem uma cota de 750 mil toneladas, isenta de Tarifa Externa Comum (TEC), para compras de fora do Mercosul, e prevê que ela será usada em 2023.
Entretanto, enquanto o trigo canadense e americano pode ser importado por qualquer região do país, o cereal russo só pode ser importado por moinhos localizados no litoral. O Ministério da Agricultura restringiu a entrada do produto russo há alguns anos para mitigar riscos de entrada de pragas, fungos e ervas daninhas.
Pacheco, da T&F, pondera, ainda, que algumas tradings vão preferir não comprar cereal russo enquanto a guerra continuar, com receio de receber restrições dos governos do Ocidente.
Fonte: Valor Econômico
Para ler o artigo original completo, acesse: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/11/18/quebra-argentina-faz-brasil-buscar-trigo-russo.ghtml
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