Renda do agro recua com safra menor e exportação mais fraca
jul, 22, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202410
A renda do agro deverá somar R$ 953 bilhões em 2024, 13,8% a menos que no ano passado, já descontada a inflação, refletindo uma safra menor e exportações mais fracas, com algum efeito da tragédia no Rio Grande do Sul. Será o menor número desde 2019 nas projeções da consultoria MB Agro, um sinal de ajuste depois de um período excepcional para o segmento – e num ano em que as condições climáticas são menos favoráveis.
O desempenho mais fraco do setor é um dos motivos para um crescimento menor da economia brasileira neste ano. No PIB, a agropecuária deverá recuar em 2024, depois de crescer 15,1% em 2023. O consenso de mercado aponta queda de 1,6% do segmento nas contas nacionais, um dos fatores que levarão o PIB a ter expansão mais próxima de 2% neste ano – no ano passado, foi de 2,9%.
Esses números, porém, não mostram crise na agropecuária, segundo analistas. Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, 2024 “é um ano de ajuste” depois de três anos muito favoráveis. Entre 2021 e 2023, a renda agropecuária ficou acima de R$ 1,1 trilhão, em valores atualizados a preços de 2024. O indicador leva em conta os preços e as quantidades produzidas.
Segundo Vale, as três variáveis fundamentais para o setor – preço, volume e câmbio – arrefeceram neste ano ou em parte dele, contribuindo para um resultado mais fraco. Com a perspectiva de juros mais altos nos EUA, os preços de commodities se acomodaram, e a safra no Brasil sofre os efeitos do El Niño, o que colabora para uma queda de volumes, ainda mais depois do desempenho excepcional de 2023, diz ele. Além disso, apenas recentemente o câmbio voltou a ficar pressionado, acrescenta Vale.
O dólar ganhou mais força no segundo trimestre e subiu mais a partir de junho, mas passou o primeiro trimestre praticamente inteiro abaixo de R$ 5. Não era um nível ruim para os exportadores, mas uma moeda americana mais baixa é menos favorável para quem vende ao exterior.
Em 2024, a renda agrícola deve ficar em R$ 642 bilhões, queda de 12,9%, já descontada a inflação, em relação ao ano passado, estima a MB Agro. Já a renda pecuária deve ter um recuo mais forte, de 15,4%, para R$ 306 bilhões.
Impacto da soja
Pelos números mais recentes do IBGE, a safra de grãos deste ano deverá ficar em 295,9 milhões de toneladas, 6,2% inferior à do ano passado. Vale ressalta o impacto da soja, produto que deverá ter uma queda forte nas exportações em 2024. Nas estimativas da MB Agro, as vendas externas do complexo soja (grão, farelo e óleo) devem atingir US$ 51,8 8 bilhões neste ano, um recuo de 23% em relação a 2023, com baixa de 6% dos volumes e 18% dos preços. “É o produto que acabou por apresentar mais perda na exportação neste ano”, diz Vale, avaliando que “houve um pouco mais de dificuldade na safra de soja, mas nada muito dramático; não é uma quebra significativa, mas, pela importância da cultura, tem efeito relevante”.
As exportações totais do agronegócio, incluindo aí produtos com transformação industrial, também vão cair neste ano. Nas previsões da MB Agro, elas deverão ficar em US$ 146,5 bilhões em 2024, 12% a menos do que no ano passado, com recuo de 10% dos volumes e 2% das cotações. A queda das exportações do milho também será forte, de acordo com a consultoria. O recuo de deve ser de 42%, para US$ 7,861 bilhões, com tombo de 37% das quantidades e 8% dos preços.
O resultado de 2024, porém, não é uma tendência para a agropecuária, diz Vale. “Isso deve ser visto como um fator temporário”, afirma ele. “A expectativa para 2025 é de uma safra melhor, com câmbio mais alto e preços um pouco melhores no geral, com a perspectiva de queda de juros nos EUA.”
O gráfico abaixo mostra o volume de exportação de soja do Brasil entre janeiro de 2021 e maio de 2024, segundo dados do DataLiner.
Volume de Exportação de Soja | Jan 2021 – Maio 2024 | WTMT
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
O ano de 2023 foi atípico; a nossa produção foi muito forte”
O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, também vê a queda da agropecuária em 2024 como um fenômeno normal. Segundo ele, o recuo era esperado, dado o avanço excepcional no ano passado, num cenário em que a soja na Argentina se recupera neste ano, depois de um 2023 em que a safra do produto no país vizinho foi abalada por uma seca severa.
“O ano de 2023 foi atípico; a nossa produção foi muito forte”, afirma Honorato.
Para 2024, o desempenho mais fraco da agropecuária neste ano vai, claro, afetar o desempenho do PIB. “O agro foi essencial para os quase 3% de expansão ano passado, mas neste ano ele tende a tirar crescimento”, diz Vale, projetando que o ritmo de expansão do PIB ficará ligeiramente inferior, entre 2% e 2,5%. A estimativa de junho da MB para a agropecuária no PIB era de recuo de 0,5%, mas Vale diz que a queda pode ser um pouco mais intensa.
Baixa no PIB
O Bradesco, por sua vez, vê uma baixa bem mais forte da agropecuária no PIB em 2024. Há duas semanas, o banco revisou a projeção para o setor nas contas nacionais neste ano de um recuo de 3,5% para uma queda de 5,2%. Essa revisão incorpora os efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul sobre o setor, mas também a expectativa de um resultado mais fraco de todo o segmento agropecuário.
Honorato reitera que não vê uma crise no segmento, mas problemas localizados. “Sempre haverá alguns produtores ‘descobertos’, que podem ter se alavancado e agora sofrem as consequências financeiras da queda da produção”, afirma ele. Há, desse modo, quem tenha se endividado e tem que enfrentar os problemas com o recuo do que é produzido. A expectativa do banco é de uma recuperação do setor em 2025, com alta de 3,9% do PIB agropecuário. Em junho, a previsão era de um crescimento de 1,9% no ano que vem.
Condições climáticas
Para os economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a produção agrícola ainda tem resultados negativos “simplesmente pelas condições climáticas menos favoráveis deste ano e pela safra recorde de 2023”. Para o segundo trimestre, eles estimam queda de 2,2% do PIB da agropecuária em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal.
“Sem dúvida, haverá um impacto negativo no setor devido ao desastre no Rio Grande do Sul, mas esse efeito é mais moderado, devido ao avanço das colheitas na região até abril de 2024”, escrevem, no Boletim Macro mais recente do FGV Ibre, os pesquisadores Silvia Matos, Caio Dianin e Bruno Issler. Para este ano, eles preveem que o PIB vai crescer 2%, com a agropecuária recuando 2%.
A aposta dominante é que o ano que vem vai ser de recuperação da agropecuária, mas ainda há incógnitas no cenário. “Para 2025, o quadro ainda não está muito claro, pois o clima tem sido muito mais volátil do que nos últimos anos”, diz Vale.
“A princípio estimo uma expansão de 3%. Mas isso vai depender da safra, da conjunção de preço e câmbio”, pondera ele. “Com uma queda de juros nos EUA, os preços de commodities podem ter reação positiva. O câmbio, por sua vez, depende da situação fiscal”, afirma Vale. “Como não parece que haverá solução definitiva, o câmbio pode estar buscando um novo ponto de equilíbrio acima dos R$ 5 em que estava anteriormente. Isso tende a dar um sentido de retomada para o setor ano que vem.”
No PIB, o peso direto da agropecuária é de 7,1%, segundo números das contas nacionais de 2023. Já a participação do agronegócio é bem maior, refletindo o efeito do setor nos outros segmentos da economia. No ano passado, a fatia ficou em 23,8% do PIB, de acordo com estimativas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O cálculo considera a agropecuária, o setor de insumos, a agroindústria e os agrosserviços. Desse modo, uma retomada da agropecuária em 2025 terá um impacto positivo sobre vários setores, ampliando os seus efeitos sobre a economia brasileira.
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