Economia

Rentabilidade das exportações cai 3,9% puxada pelos preços

out, 19, 2023 Postado porSylvia Schandert

Semana202340

Afetada por queda de preços de embarque, a rentabilidade média do exportador brasileiro caiu 3,9% de janeiro a agosto deste ano em relação a igual período de 2022. O corte de 6,1% do custo de produção propiciado pelo processo de deflação global não foi suficiente para garantir avanço da margem na exportação e teve seu efeito mitigado pela queda de 8,1% nos preços médios nos embarques e pela valorização nominal de 2% do real frente ao dólar. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

O desempenho, porém, não foi homogêneo entre os grandes setores de atividade. A rentabilidade da exportação caiu no setor agrícola e pecuário e na indústria extrativa, com quedas de 5,4% e 16,2%, respectivamente, na mesma comparação dos oito meses. Nessas atividades, o impacto da queda do preço médio de exportação e da valorização do real se sobrepôs à redução de custos. Em sentido inverso, os embarques da indústria de transformação tiveram ganho de 2,4% da rentabilidade em igual período. O avanço de margem aconteceu porque o corte de 6,4% do custo de produção compensou a queda de 2,2% nos preços de exportação do setor e a valorização da moeda nacional em 2%.

A perspectiva atual, diz Daiane Santos, professora de pós-graduação em ciências econômicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), é de que o ano feche com queda de rentabilidade ligeiramente acima da acumulada até agosto na exportação total brasileira. Nos embarques da indústria de transformação, estima, o ganho de margem em 2023 deve ficar próximo a 1% contra 2022. “O custo já se acomodou em relação ao aumento observado em 2022”, diz. Ela destaca que redução de custos, fator que favoreceu a rentabilidade de vários ramos de atividade até agosto, deve perder força.

Dentre os 23 segmentos da indústria de transformação que a Funcex acompanha, ressalta, em 13 os preços médios de exportação subiram enquanto os custos de produção caíram, ainda considerando o acumulado até agosto, na comparação com igual período do ano passado.

A venda externa de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e óticos, exemplifica, teve alta de 14,8% nos preços médios e redução de 6,1% no custo de produção. A rentabilidade dos embarques do segmento subiu 20%. Em máquinas e equipamentos, o preço médio de exportação subiu 10,6% e o custo caiu 4,4%, com alta de 13,3% na margem de lucro.

A exportação de veículos também trouxe rentabilidade maior ao exportador, cuja margem avançou 11,7% na mesma comparação. Contribuíram para isso a alta de 9% nos preços médios e a queda de 4,4% do custo de produção.

Os dados de agosto contra igual mês de 2022 mostram perda mais intensa da rentabilidade da exportação total brasileira, com queda de 6,8%. Apesar da redução de 9,4% no custo de produção, pesou contra o exportador a queda de 11,4% no preço médio dos embarques e a valorização nominal de 4,7% do real em relação ao dólar.

A redução de custos, explica Santos, é propiciada pela deflação global que tem chegado aos insumos industriais depois de períodos de alta de preços resultante de choques sucessivos. Inicialmente, lembra a economista, houve o descompasso entre oferta e demanda em 2021, após o período mais crítico da pandemia de covid-19. Depois, no ano passado, lembra Santos, a pressão nos preços veio pelo impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia, que afetou itens importantes, como os ligados à energia.

Welber Barral, sócio da consultoria BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior, chama a atenção para a redução dos preços médios de exportação da indústria extrativa. O nível de queda desses preços, de 19,2% de janeiro a agosto contra igual período do ano passado, destaca, é bem maior que a redução de 8,1% na exportação total brasileira. “Os preços não estão muito baixos agora. Na verdade os preços estão se ajustando porque estavam muito altos nos dois últimos anos.” Ele lembra que em 2021 as cotações de minério de ferro atingiram níveis recordes e no ano passado, com a eclosão do conflito no Leste Europeu, foi a vez de o petróleo subir de preços em ritmo acelerado. “Isso levou à renegociação de contratos de exportação, mesmo em casos em que não havia cláusulas de reajuste. Isso diminuiu neste ano, embora haja ainda um carry over da inflação passada.”

Para o ano que vem, diz Barral, há muitas incertezas. “Um grande elefante na sala é o comportamento da economia chinesa”, diz Barral. Disso, avalia, depende o comportamento de preços de itens importantes da pauta de exportação brasileira, como minério de ferro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu na última semana a projeção de crescimento do PIB da China de 5,2% para 5% em 2023 e de 4,5% para 4,2% em 2024. O principal fator de preocupação, diz Barral, é em relação à crise do setor imobiliário do país asiático.

Fonte: Valor Econômico

Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/10/18/rentabilidade-das-exportacoes-cai-39-puxada-pelos-precos.ghtml

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