Reportagem especial: Análise do aumento das exportações do agronegócio no Brasil e seu impacto nas taxas de frete e nos embarques de contêineres
jun, 25, 2020 Postado porSylvia SchandertSemana202026
Apesar do coronavírus, as exportações brasileiras do agronegócio têm crescido consideravelmente este ano, com as exportações de suínos liderando o maior aumento percentual e as exportações de soja para a China dominando as estatísticas de volume.
Aumento das exportações brasileiras de agronegócios
Do lado das exportações, o Brasil resistiu à tendência do comércio internacional, apesar da deterioração das crises econômica, política e de saúde, ocasionadas pelo coronavírus. De acordo com várias operadoras e fontes governamentais, o sucesso do agronegócio deve continuar no restante de 2020.
Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil teve o melhor abril para as exportações do agronegócio desde 2013. Já a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) observou que o superávit comercial global nos primeiros quatro meses deste ano foi de US $ 19,7 bilhões, cerca de 14,56% maior em relação ao mesmo período de 2019, embora isso também se deva à queda nas importações.
A demanda aquecida, principalmente da China, fez o Brasil exportar 36 milhões de toneladas de soja durante os primeiros três meses deste ano, segundo a agência marítima Cargonave, um aumento de 100% em relação ao mesmo período do ano passado.
E, excluindo a soja, as exportações de carne suína estão na liderança. De fato, as exportações brasileiras de suínos quebraram duas barreiras em maio deste ano: registraram mais de 100.000 toneladas e totalizaram mais de US $ 200 milhões em receita pela primeira vez em um mês, de acordo com a Associação Brasileira de Proteínas Animais (ABPA).
Amparados pela gripe suína africana devastando porcos domésticos criados na China e a guerra comercial em curso entre os EUA de Donald Trump (o segundo maior exportador de carne suína do mundo, com US $ 5,22 bilhões em vendas e uma participação de 15,8% do mercado geral) e a China, exportadores brasileiros tiraram o máximo proveito das circunstâncias favoráveis e, durante os primeiros quatro meses deste ano, 10.002 TEUs de carne de porco foram enviados para a China e outros 2.385 TEUs para Hong Kong, segundo as estatísticas da Datamar.
O gráfico a seguir mostra os principais destinos da carne suína brasileira no período de janeiro a abril de 2020:
Com as exportações totais de carne suína brasileira no período atingindo 16.257 TEUs, os dois destinos chineses tiveram uma participação de mercado maciça de 76,19%, seguidos por Cingapura, com apenas 6% de participação. Com a Rússia diminuindo sua participação de mercado nos últimos três anos, de 43% em 2017 para apenas 0,13% em 2020, os transportadores brasileiros de carne de porco tornaram-se muito dependentes do mercado chinês.
Francisco Turra, presidente da ABPA e ex-ministro da Agricultura (durante 18 meses entre 1998 e 1998, sob o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso), disse que as exportações de suínos em maio foram 52,2% maiores que no mesmo mês do ano passado e as receitas aumentaram 58,4%, atingindo 227,9 milhões de dólares.
No acumulado do ano (janeiro a final de maio), as exportações de suínos atingiram 383.200 toneladas, 34% acima do volume exportado nos primeiros cinco meses de 2019. Em receita, o saldo foi 54,8% superior, com US $ 878,3 milhões em 2020, segundo dados da ABPA. Nesse ritmo, é muito provável que o Brasil ultrapasse a Bélgica e se torne o sétimo maior exportador mundial de carne de porco, de acordo com dados da CIA nos EUA.
“Superamos pela primeira vez o nível de 100.000 toneladas e US $ 200 milhões em um único mês. Embora extremamente positivo, era um comportamento esperado pelo setor para este ano (devido a pedidos antecipados da China atingida pela gripe suína), mesmo com o enfrentamento da pandemia. Enquanto o setor mantém a oferta doméstica e traz moeda estrangeira para o país neste momento de grave crise, as vendas para o mercado internacional contribuem para reduzir o aumento dos custos de produção”, afirmou Turra.
Efeito do aumento das exportações no transporte de contêineres
O sucesso das exportações de carne em geral para a China e para o Extremo Oriente (frango e carne bovina, além da carne de porco) ocasionou a falta de contêineres reefer, o que motivou à implantação de vários “extra loaders” para aumentar o estoque disponível de contêineres no Brasil.
O gráfico a seguir mostra as exportações via contêiner reefer do Brasil para a China e o Extremo Oriente:
Nada mais representativo do que a chegada do APL Paris (operado pela CMA CGM) carregado de contêineres reefer vazios a Navegantes, ao invés de Santos, devido a restrições de comprimento de embarcação. Outras transportadoras também inseriram “extra loaders” para manter o suprimento de contêineres reefer para seus clientes no Brasil, especialmente nos estados do sul [Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul], que são a porta de saída para escoar a produção de frango e carne suína. Já as exportações de carne bovina predominam em Santos, onde a escassez de contêineres reefer não tem sido tão acentuada.
Para trazer os contêineres reefers vazios de volta ao Brasil, alguns armadores (incluindo a Maersk Line e a Hamburg Sud) estão recorrendo à capacidade não utilizada em seus serviços europeus e depois fazendo o transbordo de volta para a América do Sul. Outros armadores também estão utilizando a capacidade não utilizada para a Europa voltada para o norte, transportando contêineres reefer completos, adicionando 10 a 14 dias ao tempo de trânsito normal de 35 dias do Brasil para a China.
A Maersk Line movimentou 3.949 TEUs (participação de mercado de 24,3%) de carne suína durante os primeiros quatro meses deste ano (dados da Datamar), enquanto a MSC movimentou 3.398 TEUs (20,9%) e a Hamburg Sud 2.558 TEUs (15,74%). A CMA CGM embarcou 2.185 TEUs de carne suína (13,44% de participação) no mesmo período.
Fonte: DataLiner (Para solicitar um demo do DataLiner clique aqui)
Taxas de frete
Devido ao rigoroso controle de capacidade das principais rotas, Maersk Line, CMA CGM, MSC e Hamburg Sud adotaram Blank Sailings e as taxas de frete para exportação de contêineres reefer permaneceram altas. Uma breve pesquisa com oito freight forwarders e dois armadores revelou uma faixa de preço à vista entre 3.800 e 4.200 dólares por FEU, entre 19 e 23 de junho, para um FEU de carne de porco embarcada de Santos para Xangai.
Um gerente sênior de um dos armadores envolvidos na rota comercial ECSA-China disse à Datamar que essa faixa de preços é “para operações spot e à vista”, que oscila desde o início do ano, mas a taxa de frete para contratos de longo prazo assinados em abril, para “volumes significativos e regulares”, eram mais baixas, da ordem de 3.000 dólares por FEU.
Essas flutuações, em termos de TEU seco, foram confirmadas pela Xeneta, uma plataforma benchmarking de preços de frete marítimo e aéreo de contêineres. Segundo a plataforma, um TEU seco de Xangai à Santos no mercado spot caiu de 2.500 dólares no início de 2020, para apenas 1.000 dólares no final de abril e início de maio, antes de subir para cerca de 1.500 dólares por TEU no início de junho. Durante esse período, as taxas de longo prazo (principalmente de contrato) mantiveram-se estáveis em 1.600 dólares desde o início do ano, mas já haviam caído de 2.100 dólares na virada de 2020. As elevações do início do ano foram causadas devido ao fechamento de alguns portos chineses, que estavam lidando com surtos de coronavírus, causando atrasos.
Patrik Olstad Berglund, CEO da Xeneta, disse à Datamar que a rota China-Brasil estava “um pouco volátil, como sempre” desde o início deste ano.
“Os armadores se saíram muito bem durante a crise ocasionada pelo novo coronavírus, equilibrando oferta e demanda, de modo que as taxas de longo prazo estão se mantendo em um bom patamar”, disse Berglund. “A situação de escassez de equipamentos permitiu que eles aumentassem as taxas por um tempo.”
Tanto os executivos da Berglund quanto os armadores acrescentaram que a queda na demanda por petróleo significa que os preços dos bunkers estão caindo e isso também manteve as taxas de frete mais baixas do que seriam de outra forma, e o excedente de petróleo significa que os preços podem até cair nos próximos meses.
Essas tarifas da China são relevantes para o preço e a disponibilidade de contêineres reefer no Brasil, pois afetam a capacidade dos armadores de devolver os contêineres vazios de seus destinos chineses.
As exportações de carne suína do Brasil estão fortemente concentradas no sul do país, e os dados da Datamar mostram que os três estados do sul respondem por 98% de todos os embarques: Santa Catarina lidera com 68%, seguida por Rio Grande, com 19,9%, e depois o Paraná, com 10,8%.
O Complexo Portuário de Itajaí (que inclui a Portonave em Navegantes, na margem direita, e a AP Moller Itajaí no próprio Porto de Itajaí, na margem esquerda) movimentou 10.280 TEUs nos primeiros quatro meses (4.802 TEUs nos primeiros e 5.478 TEUs nos últimos), dando a ele uma participação de 63,24% nas exportações brasileiras de carne suína. O próximo do ranking é o Rio Grande, com quase 20% de participação. O Porto Itapoá viu sua participação cair de 16% ou mais em 2017 para pouco menos de 5%, apesar de adicionar capacidade extra para contêineres reefer, já que a Hamburg Sud e a Maersk Line trocaram vários serviços de Itapoá para o Complexo Portuário de Itajaí.
O gráfico a seguir mostra a participação dos portos brasileiros nas exportações de carne suína no período de janeiro de 2017 a abril de 2020:
O gráfico a seguir mostra a participação dos portos catarinenses nas exportações de carne suína no período de janeiro de 2017 a abril de 2020:
Fonte: DataLiner (Para solicitar um demo do DataLiner clique aqui)
Fonte: Rob Ward (jornalista freelancer para o DatamarNews)
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