Restrições argentinas às importações afetam setores da indústria
jul, 12, 2022 Postado porSylvia SchandertSemana202023
As restrições às importações argentinas, medida imposta para tentar conter a desvalorização da moeda local contra o dólar, vai afetar o Brasil, na visão do economista argentino Alejo Czerwonko, chefe de investimentos do banco UBS para a América Latina. Embora seja improvável um contágio em grande proporção devido à perda de importância do país vizinho na participação do comércio exterior brasileiro, alguns setores, entre eles o calçadista, já está sentindo o impacto.
“As crises política e econômica na Argentina estão se retroalimentando neste momento e há evidências para esperar que a situação piore ante que se estabilize”, comentou ao Valor. “Não parece haver nenhum apetite do governo [argentino] de permitir que a taxa de câmbio reflita a realidade econômica do país. É de se esperar, portanto, que as restrições às importações argentinas aumentem e que países como o Brasil se vejam afetados.”
Na semana passada, um mudança no Ministério da Economia argentino acentuou a crise no país e incentivou mais uma grande desvalorização do peso argentino no mercado paralelo, enquanto a taxa oficial de câmbio se mantém controlada pelo governo – o dólar paralelo terminou no dia 11 a cotado em 263 pesos e o oficial, 133 pesos. Apesar disso, em pronunciamento no mesmo dia 11, a nova ministra da pasta, Silvina Batakis, disse que o câmbio do país está em “equilíbrio. Ela argumentou que o mercado paralelo movimenta aproximadamente 3 milhões de pesos por dia ao tempo em que o oficial movimenta diariamente 1 bilhão.
Contudo, a medida que o Banco Central argentino anunciou no fim de junho, antes mesmo da piora da crise com a mudança provocada pela vice-presidente Cristina Kirchner no Ministério da Economia, alterou as condições ao mercado de câmbio do país vizinho para o pagamento de importações. Embora haja consenso entre os economistas de que a chance de contágio macroeconômico no Brasil seja pequena, representantes de setores como o automotivo e o de calçados, por exemplo, não podem dizer o mesmo.
“A Argentina é o nosso segundo principal destino de embarques” conta a economista e coordenadora de Inteligência de Mercado da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Priscila Linck. “Essa restrição pegou o setor de surpresa em um momento de crescimento expressivo dos embarques. No primeiro semestre, nossas exportações para lá cresceram 88% em valor e 61% em volume, sendo o maior volume registrado desde a série histórica, iniciado em 1997. O setor vinha se beneficiando”.
Veja abaixo o histórico das exportações brasileiras de calçados de janeiro de 2021 a maio de 2022. Os dados são do Dataliner.
Exportações brasileiras de calçados para a Argentina | Janeiro 2021 – Maio 2022 | TEU
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Segundo Priscila, desde que o BC argentino anunciou a restrição com efeito imediato no dia 27 de junho, exportadores de calçados brasileiros viram seus produtos pararem na aduana argentina sujeitos à medida. Ela explica que, diante da restrição dos pagamentos, que visa conter a desvalorização cambial, a situação tem obrigado as empresas brasileiras interessadas no mercado argentino a financiar os compradores.
“É basicamente isso. As empresas brasileiras precisam enviar as mercadoras, arcar com o custo de produção e embarque diante de uma promessa de que o pagamento será realizado após 180 dias, que é quando o importador deve voltar a ter acesso ao mercado de câmbio na Argentina, se a medida não for prorrogada”, comenta a economista da Abicalçados. “Empresas que têm algum importador argentino de longa data e relacionamento estável tendem a manter a operação [no mercado da Argentina], mas outras que não têm condições de financiar os parceiros argentinos tendem a suspender a operação no país”, diz Priscila, ressaltando que já há relatos de cancelamento de pedidos.
“Embora ainda não apareça nas estatísticas, o impacto é a inviabilização na operação de uma grande parte de empresas, principalmente as pequenas e as micros, que não têm condições de atuar como financiadoras dos importadores argentinos”, conclui.
Apesar disso, segundo funcionários do governo Jair Bolsonaro, praticamente não foram encaminhados reclamações ou pedidos para que Brasília fizesse alguma gestão junto à Casa Rosada para relaxar restrições à importação de produtos brasileiros pela Argentina. Ao contrário de problemas comerciais no passado, quando os apelos do setor privado à Esplanada dos Ministérios eram quase imediatos, desta vez a postura dos empresários tem sido bem mais contida. Na avaliação das autoridades, isso é um reflexo da perda de importância do mercado argentino para boa parte da indústria no Brasil.
Fonte: Valor Econômico
Para ler o artigo original completo: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/07/12/restricoes-argentinas-as-importacoes-afetam-setores-da-industria.ghtml
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