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Seca na Amazônia Afeta Transporte Fluvial e Aumenta Custos de Produção

dez, 19, 2024 Postado porDenise Vilera

Semana202448

O Rio Negro, na Amazônia, atingiu seu menor nível em mais de um século, medindo apenas 12,1 metros após a seca deste ano. Seus afluentes, antes importantes vias de transporte, se transformaram em campos de arroz silvestre e lama, evidenciando a gravidade da seca. Um ditado local reflete a dura realidade: “Na cheia, você perde tudo, mas a seca te mata.” Pelo segundo ano consecutivo, o estado do Amazonas enfrenta uma temporada de estiagem intensa.

Em 2023, o Rio Negro em Manaus registrou uma profundidade de 12,7 metros, o menor nível desde o início dos registros em 1902. Neste ano, o rio caiu ainda mais, mais de meio metro abaixo do recorde anterior de 2010, quando mediu 13,63 metros.

A seca na Amazônia tem causado grandes interrupções na vida cotidiana e na economia da região. Os rios, essenciais para o transporte dentro do estado e para outras áreas, estão intransitáveis em muitos trechos. Isso resultou em isolamento, escassez de suprimentos e dificuldades no acesso a programas sociais. Os impactos são sentidos especialmente no Polo Industrial de Manaus (PIM), onde as empresas enfrentam custos crescentes. O Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM) estima que a seca tenha gerado mais de R$ 1,3 bilhão em despesas adicionais para as empresas da Zona Franca de Manaus. Embora ligeiramente menores que em 2023, esses custos incluem aumento no frete, taxas de armazenagem em depósitos de terceiros e sobretaxas de navios transportadores de contêineres. Uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) revelou que 87% das empresas foram impactadas por esses custos adicionais, enquanto 78% enfrentaram restrições de navegação. A maioria das empresas absorveu os custos, mas algumas repassaram parcial ou integralmente aos consumidores por meio de preços mais altos.

As consequências sociais da seca também são severas. Comunidades que dependem dos rios para transporte e sustento enfrentam isolamento e escassez de alimentos. Raimundo Kambeba, professor e proprietário de uma pousada na comunidade Três Unidos, ao longo do Rio Cuieiras, descreveu a situação crítica. Durante as cheias, os rios destroem plantações e invadem casas, mas, nas secas, os igarapés e lagos secam, impossibilitando a pesca e a agricultura. Há dois anos, barcos podiam chegar diretamente à comunidade Três Unidos. Agora, devido à retração das águas, os viajantes precisam desembarcar a mais de um quilômetro de distância. A seca tem afetado profundamente o bem-estar físico, mental e espiritual da comunidade, interrompendo a educação, a comunicação e as atividades sociais.

Embora cheias e secas façam parte do ciclo natural da Amazônia, as condições atuais têm sido excepcionalmente extremas. No início de dezembro, quando os rios normalmente começam a subir, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) informou que a bacia do Rio Amazonas ainda enfrentava uma seca extrema. Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), alertou que isso marca um “novo normal” para a região. Ele destacou que a seca não é apenas uma questão ambiental, mas tem implicações econômicas, sociais e de saúde pública. Viana enfatizou a necessidade de maiores investimentos em adaptação climática e projetos estruturais, como a conclusão da BR-319 para conectar Manaus a Porto Velho e a ampliação das vias fluviais do estado.

O gráfico a seguir mostra o throughput de contêineres registrado no Porto de Manaus entre janeiro de 2021 e outubro de 2024. Os dados vêm do DataLiner.

Throughput de Contêineres do Porto de Manaus | Jan 2021 – Out 2024 | TEUs

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)

Segundo Viana, os esforços atuais para lidar com a seca estão muito aquém do necessário. Ele defendeu planos abrangentes de adaptação climática com orçamentos e cronogramas adequados, alertando que, sem ações concretas, esses planos podem se tornar apenas intenções. O gasto público na região amazônica muitas vezes é ineficiente, agravando os desafios impostos por orçamentos apertados e infraestrutura social inadequada. Viana destacou que enfrentar os impactos da seca exige recursos financeiros e um foco em implementação eficaz e eficiente.

A seca em curso ressalta a urgência de investimentos e ações na Amazônia. Sem intervenções significativas, a região enfrenta um futuro cada vez mais incerto, com desafios econômicos, sociais e ambientais em escalada.

Fonte: Valor International

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