Seca no Canal do Panamá ameaça uma das principais rotas do comércio marítimo global
abr, 28, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202320
A escassez de chuvas obrigou o Canal do Panamá a reduzir outra vez a altura máxima dos navios que passam pela via interoceânica —mais um episódio da crise de abastecimento de água que ameaça o futuro da rota marítima pela qual passam 6% do comércio marítimo mundial.
“O lago Alhajuela está ficando cada dia mais sem água”, lamenta à AFP Leidín Guevara, um trabalhador autônomo panamenho de 43 anos, que vai pescar no local duas vezes por mês. Na terra seca ao lado do lago, ele afirma que esta foi a seca mais difícil que testemunhou no canal.
Alhajuela e Gatún são os dois lagos artificiais na província caribenha de Colón que fornecem água para o canal —ambos foram afetados pela seca. A situação levou a ACP (Autoridade do Canal do Panamá) a limitar pela quinta vez a profundidade das maiores embarcações que transitam pela via.
No Canal do Panamá, a água da chuva é a fonte de energia responsável por mover os navios pelas eclusas. Essas obras funcionam como elevadores que elevam as embarcações até 26 metros acima do nível do mar para que possam atravessar a cordilheira continental.
O trânsito de embarcações requer cerca de 200 milhões de litros de água doce despejados no mar, o que torna os lagos Alhajuela e Gatún vitais. No entanto, de acordo com a ACP, de 21 de março a 21 de abril deste ano, os níveis de água no Alhajuela caíram de 69 para 62 metros, enquanto no Gatún baixaram de 25,6 para 25,2 metros. Embora a crise tenha se acentuado agora, em 2019, todos os alarmes soaram quando, dos 5,25 bilhões de metros cúbicos de água doce necessários para a via, apenas cerca de 3 bilhões estavam disponíveis.
“A falta de chuvas afeta diversas frentes, principalmente a redução de nossas reservas de água”, declarou à agência de notícias AFP Erick Córdoba, gerente de Água da ACP. A crise também impacta as operações por reduzir a passagem dos navios Neopanamax —os maiores que transitam pelo canal e os que mais pagam pedágio.
Em 2022, mais de 14 mil embarcações com 518 milhões de toneladas de carga cruzaram o Canal do Panamá, o que gerou US$ 2,5 bilhões (por volta de R$ 12,7 bilhões) para o tesouro panamenho. Temendo que empresas de navegação decidam usar outras rotas e gerem um rombo no PIB, as autoridades do país estão buscando alternativas para garantir as operações do canal a longo prazo.
Ao site local SNIP Notícias, o administrador do canal, Ricaurte Vásquez, afirmou que a escassez de água é uma das maiores ameaças ao estreito. “A água representa um elemento limitante à capacidade deste país de fazer valer sua rota”, disse. À AFP, Jorge Quijano, ex-administrador do canal, diz que a situação pode tirar do canal a sua capacidade de crescimento. “É essencial encontrar novas fontes de água, especialmente diante de uma mudança climática que já está se manifestando, não só em nosso país, mas em todo o mundo”, afirma.
Luz de Calzadilla, diretora geral do Instituto de Meteorologia e Hidrologia do Panamá, afirmou à AFP que o canal teve déficit de precipitação, mas “dentro da normalidade do que é uma temporada seca”. Há, porém, uma “alta probabilidade” de que o país seja impactado no segundo semestre pelo fenômeno climático El Niño, caracterizado por menos chuvas.
“A verdade é que a administração do canal faz mágica para manter o negócio e cumprir uma responsabilidade social como é o fornecimento de água potável para consumo humano”, acrescenta.
Fonte: Folha de S. Paulo
Para ler a matéria original, acesse: https://folha.com/vwq3msn6
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