
Segundo dia da Conferência DataSmart Shipping: Acompanhe os principais destaques do evento
mar, 26, 2025 Postado porSylvia SchandertSemana202513
Nesta quarta-feira, dia 26 de março, foi o último dia da Conferência DataSmart Shipping – Aplicando Tecnologia para extrair valor.
O primeiro painel do dia, “Qual o status atual da inteligência de mercado no Brasil? Quais dores poderiam ser resolvidas com a inteligência artificial” teve início com a palestra de Jeferson Gilgen, do Porto de Itapoá.
A palestra abordou o status atual da inteligência de mercado no Brasil, destacando desafios e oportunidades, especialmente no setor portuário. Gilgen ressaltou a importância de integrar dados internos e externos para criar um ecossistema de inteligência que sustente decisões estratégicas. Ele compartilhou cases práticos, como o desenvolvimento de um ranking de clientes por score, que consolidou múltiplos fatores em uma única análise, e a implementação do “Game Plan”, que alinhou a estratégia comercial com indicadores macroeconômicos. Além disso, destacou a criação de cartilhas de vendas, com informações de infraestrutura, tradelanes e performance, auxiliando a equipe comercial nas negociações.
Entre os desafios, ele apontou a dificuldade em contratar profissionais qualificados em inteligência de mercado e o tempo necessário para essa busca. Outro ponto crítico é a padronização de dados, como a definição de métricas precisas para calcular o desempenho portuário e a unificação de datas em registros operacionais. Quanto às oportunidades, destacou o papel da IA como aliada nas análises complexas, enfatizando que o futuro da profissão está em saber interpretar os resultados gerados por essas ferramentas. A palestra concluiu reforçando a necessidade de medir a eficiência do trabalho de inteligência de mercado e o impacto das análises nas decisões estratégicas.
Ederson Oliveira, do Tecon Salvador, apresentou sua jornada de integração de dados para otimizar a eficiência operacional, destacando a evolução do uso de ferramentas de análise na empresa. Inicialmente, a área comercial utilizava planilhas em Excel para extrair informações e apoiar decisões, mas os desafios com arquivos pesados e limitações operacionais levaram à adoção do Google Data Studio, uma solução em nuvem que permitiu acesso rápido e remoto a dados atualizados de clientes, armadores e embarcadores. Essa mudança possibilitou não só uma tomada de decisão mais ágil, mas também a integração de outras ferramentas, como o CRM Salesforce e o DataLiner da Datamar, que colaboraram para a análise estratégica do mercado e das operações dos terminais.
Além disso, Ederson ressaltou a importância da digitalização dos processos e da transformação digital para impulsionar a competitividade e a sustentabilidade tecnológica do Tecon Salvador. A integração de dados possibilitou uma jornada de marketing mais assertiva, com a identificação de oportunidades e a personalização do relacionamento com o cliente, alinhando automação com a proximidade humana. Essa estratégia integrada não só otimizou as operações comerciais, mas também contribuiu para o crescimento do terminal, ampliando sua influência regional e fortalecendo sua posição no cenário logístico e portuário brasileiro.
A palestra de Eliane Okino, da Rochamar Agência Marítima, destacou o papel da inteligência de mercado no agenciamento marítimo, explicando a diferença entre agentes marítimos, que atuam como intermediários entre portos e clientes, e agentes de carga, focados no transporte em si. Okino ressaltou que a Rochamar, parte do Grupo Ultramar, opera em 30 países e enfrenta desafios distintos no transporte regular (liner) e no transporte a granel. Enquanto o setor liner se beneficia de dados mais organizados, com destaque para a contribuição do Datamar, o granel ainda sofre com a falta de compartilhamento e padronização de informações, dificultando decisões estratégicas e operações eficientes.
Ela apontou a inteligência artificial como uma solução promissora para a captação e organização de dados, permitindo análises mais rápidas e precisas. No entanto, enfatizou a necessidade de uma mudança cultural no setor, com maior colaboração entre empresas concorrentes para melhorar a visibilidade do mercado e fortalecer a competitividade. Okino concluiu destacando a importância do conhecimento e da informação como bases do progresso no comércio exterior, reforçando que a IA, aliada à cooperação, pode impulsionar a inovação e o crescimento do setor portuário brasileiro.
Painel 2: Quais os desafios tecnológicos para conseguirmos implementar melhores soluções tecnológicas na análise de grandes bases de dados
Sandro Martins, do Porto Itapoá, apresentou como o uso de Big Data, Machine Learning e IA tem transformado a gestão portuária. O principal desafio era reduzir os movimentos improdutivos – operações extras causadas pela falta de previsibilidade na retirada dos contêineres. A solução envolveu a integração de sistemas internos com a nuvem, permitindo a análise de grandes volumes de dados e a aplicação de modelos preditivos para antecipar as retiradas com maior precisão.
Como resultado, o Porto Itapoá alcançou uma redução de 25% nos movimentos improdutivos e obteve o retorno do investimento em apenas 6 meses. A digitalização trouxe mais eficiência e sustentabilidade, consolidando os dados como um ativo estratégico para a tomada de decisões e o futuro da logística portuária.
Richard Nachtigall, Head of International Logistics da Lojas Renner, discutiu a crescente importância dos dados na gestão da logística internacional no setor varejista. Ele destacou a complexidade das operações logísticas da Renner, que importa produtos de diversas regiões, como Ásia, Europa e América Latina. A empresa enfrenta desafios no acompanhamento das remessas, especialmente em tempo real, devido à fragmentação e falta de padronização dos sistemas de dados entre diferentes partes envolvidas. Ele enfatizou que a necessidade de dados rápidos e precisos se tornou ainda mais crítica nos últimos anos, especialmente pós-pandemia, pois os atrasos podem afetar significativamente a entrega pontual de produtos de moda, que são altamente sazonais. A Renner está investindo em tecnologias emergentes, como IA, IoT e análise preditiva, para melhorar a precisão dos dados e a tomada de decisões na logística.
Nachtigall também abordou os principais desafios de dados fragmentados, incompatibilidade de sistemas e preocupações com segurança nas operações logísticas. Ele explicou que a integração de dados provenientes de várias fontes—como sistemas de transporte, fornecedores e armazéns—continua sendo um grande obstáculo. A falta de uniformidade nos formatos de dados (como diferentes formatos de datas e unidades de medida entre países) complica o processo. Ele ressaltou a importância da colaboração entre os stakeholders para melhorar o compartilhamento de dados, o que poderia aumentar a confiabilidade e reduzir as incertezas. Além disso, Nachtigall destacou a necessidade de mais profissionais capacitados em logística e tecnologia, à medida que a indústria depende cada vez mais da tomada de decisões baseada em dados. Ele concluiu pedindo maior investimento em tecnologia e no desenvolvimento da força de trabalho para manter a competitividade no setor varejista.
Rodrigo Diaz, diretor da Thomson Reuters, apresentou os desafios e oportunidades relacionados à análise de grandes volumes de dados no comércio exterior, com foco em regulamentação e competitividade. Ele destacou a complexidade do cenário regulatório global, onde mais de 130 milhões de alterações são registradas anualmente, o que torna humanamente impossível para os importadores acompanhar todas as mudanças. Diaz enfatizou a importância de tecnologias que ajudem a filtrar e analisar esses dados, garantindo que os processos de importação sejam realizados de forma eficiente e em conformidade com as regulamentações, evitando custos extras e impactos negativos na logística e competitividade das empresas.
Ele também abordou o novo processo de importação no Brasil, com o Portal Único, que busca modernizar a plataforma tecnológica e melhorar a agilidade das operações, mas exige adaptação por parte dos importadores. O sistema antigo não comportava mais as necessidades da indústria, o que levou à criação de um sistema mais avançado, embora com desafios na implementação. Diaz ressaltou que, apesar dos riscos de adaptação, a mudança traz benefícios, como maior celeridade no processo, e destacou a importância de automação e análise de dados para a otimização das operações. Empresas que investem em tecnologia de compliance, visibilidade no supply chain e automação terão mais chances de aumentar sua competitividade e reduzir riscos no comércio exterior.
Palestra Teoria dos Grafos na análise de relacionamentos
A palestra sobre Teoria dos Grafos, apresentada pelo Prof. Enderson Junior, doutorando da UFF, abordou a aplicação de gráficos na análise de relacionamentos, com foco na criação de perfis de empresas para decisões de BIDs. O Prof. Enderson compartilhou sua vasta experiência acadêmica e profissional, incluindo artigos e prêmios, além de destacar o uso de gráficos em áreas como redes de computadores, logística e inteligência artificial. Ele explicou como a inteligência artificial, apesar de poderosa, carece de explicabilidade, enquanto bancos de dados orientados a grafos oferecem maior transparência e auditoria dos dados.
A palestra também incluiu uma demonstração prática, utilizando dados reais para realizar clusterizações e identificar padrões logísticos e comerciais, como rotas de importação e exportação. A partir de gráficos, foi possível identificar empresas com grandes volumes de movimentação e potenciais oportunidades de negócios, como a conexão de gráficos ainda não interligados. A teoria dos grafos, portanto, surge como uma ferramenta essencial para a otimização de processos e a análise de dados complexos.
Previsão de Séries Temporais (Análise preditiva)
A palestra do professor Eder Cassettari, da USP, abordou a previsão de séries temporais, destacando a importância da análise de dados para aprimorar a tomada de decisões. Ele explicou que a eficácia dos modelos preditivos é avaliada pelo erro – quanto menor, melhor – e pelo coeficiente de determinação (R²). Caso um modelo apresente baixa precisão, a solução pode estar na mudança da técnica utilizada, sem necessariamente modificar a base de dados. Além disso, Cassettari enfatizou o uso de metodologias como Lean Six Sigma, D-MIC e Kaizen para otimizar processos e reduzir desperdícios antes de aplicar modelos preditivos.
Outro ponto essencial foi a análise de componentes das séries temporais, considerando tendência, sazonalidade e variabilidade. O professor ressaltou que regressões lineares não são adequadas para esse tipo de previsão, pois os padrões de comportamento dos dados são mais complexos. Ele também esclareceu que a previsibilidade dos modelos tem um limite: é possível estimar com segurança até 10% do período analisado, evitando extrapolações arriscadas. Por fim, reforçou que uma abordagem estruturada e adaptável, aliada à tecnologia, permite aprimorar a confiabilidade das previsões e a eficiência da gestão logística e operacional.
A Sedução do Futuro: Como o marketing de IA pressiona stakeholders a apostar no incerto
O professor Walter Junior, da UNIFESP, abordou a relação entre inovação, tecnologia e mercado, destacando a dificuldade de consolidar novas tecnologias em um mundo onde tudo é tratado como imediatista. Ele explicou que muitas apostas tecnológicas acabam se tornando passageiras, como o metaverso, e que a inovação, embora essencial, precisa de tempo para maturação. Empresas que não compreendem a diferença entre tecnologias disruptivas e incrementais podem acabar investindo em tendências sem real impacto. Além disso, ele destacou como a pressão por resultados pode comprometer a adoção responsável de novas soluções, afetando a competitividade e a sustentabilidade dos negócios.
Outro ponto importante foi a necessidade de profissionais que consigam analisar criticamente as tecnologias emergentes, separando o que é viável do que é apenas marketing. Walter enfatizou que empresas como Microsoft e IBM adotam abordagens diferentes na corrida pela inteligência artificial, e que muitas startups utilizam discursos exagerados para atrair investimentos. Ele alertou que sem um olhar criterioso sobre a maturidade das tecnologias, organizações podem cair em armadilhas e desperdiçar recursos. No fim, reforçou que a chave para navegar nesse cenário tecnológico acelerado está na integração estratégica e no investimento consciente em inovação.
Último Painel: Até que ponto a IA é uma realidade prática para a indústria de Comex no Brasil?
No último painel, Daniel Belisário, diretor comercial da JBS Terminais, destacou a rápida inovação e implementação tecnológica no setor portuário. Após a aprovação da ANTAQ, a JBS assumiu um terminal que esteve inativo por dois anos, enfrentando desafios como a falta de capacidade portuária. Em tempo recorde, o terminal foi alfandegado em apenas 100 dias, um processo que normalmente levaria de seis a nove meses. A implementação do sistema operacional foi concluída em três meses, metade do tempo usual, e em pouco tempo o terminal passou a receber grandes linhas de navegação, como MSC e Maersk. Em apenas quatro meses de operação, movimentaram 30 mil contêineres, e a expectativa para o ano é alcançar 200 mil.
Olhando para o futuro, a JBS Terminais aposta no uso de inteligência artificial para otimizar operações portuárias. Tecnologias como o Expert Deck auxiliam na melhor organização dos contêineres para agilizar retiradas, enquanto o Prime Road otimiza as rotas dos caminhões no terminal. Além disso, a implementação de câmeras OCR e APIs conectando sistemas dos clientes permite controle em tempo real das cargas, melhorando eficiência e planejamento logístico. A empresa segue investindo na digitalização e inovação para transformar a experiência portuária.
Marja Wechenfelder, das Lojas Renner, abordou em sua palestra a importância da inteligência artificial na análise de cenários e na tomada de decisões estratégicas, especialmente em ambientes de incerteza. Ela destacou que, embora a IA dependa de dados para aprendizado, sua utilização pode ser extremamente útil na simulação de cenários econômicos e operacionais. Ao interagir com ferramentas como o ChatGPT, Marja explicou como é possível testar hipóteses, identificar riscos e preparar estratégias para diferentes situações, sem necessariamente depender de modelos estatísticos tradicionais. A inteligência artificial, segundo ela, não precisa prever o futuro com exatidão, mas pode auxiliar na compreensão das possibilidades e impactos de eventos incertos no setor portuário e logístico.
Além disso, Marja enfatizou a importância da resiliência e da adaptação às mudanças, destacando que empresas devem combinar tecnologia com um pensamento estratégico de longo prazo. Ela mencionou exemplos concretos de como a análise preditiva e o uso de APIs podem otimizar processos e ajudar a reduzir incertezas, tornando a gestão mais eficiente. Seu ponto central foi que a inteligência artificial deve ser vista como uma ferramenta para enriquecer a capacidade humana de tomar decisões informadas, criando vantagens competitivas e maior previsibilidade em um mundo cada vez mais dinâmico.
Para finaliza o evento, Érika Marques, da FTrade, destacou em sua palestra a evolução da empresa no setor logístico, especialmente no transporte de cargas perecíveis. Ela ressaltou como a tecnologia e a inteligência artificial têm revolucionado a cadeia de suprimentos, desde a automação na colheita de frutas até a otimização do transporte e armazenamento. Com exemplos práticos, mostrou como sensores inteligentes, análise de dados e automação contribuem para reduzir desperdícios, melhorar a qualidade dos produtos e aumentar a sustentabilidade do setor. A IA permite maior controle sobre a temperatura e umidade, garantindo que as mercadorias cheguem ao destino com a máxima qualidade, além de prever riscos e agilizar a tomada de decisões estratégicas.
No entanto, Érika reforçou que, apesar dos avanços tecnológicos, a inteligência artificial não substitui a necessidade de empatia e do olhar humano no setor logístico. A interação com clientes, a construção de relacionamentos e a capacidade de interpretar cenários complexos continuam sendo diferenciais essenciais para o sucesso das empresas. Segundo ela, o futuro pertence às companhias que conseguirem equilibrar o uso da tecnologia com a experiência humana, aproveitando o melhor dos dois mundos para oferecer serviços mais eficientes e estratégicos.
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