Superávit brasileiro cresce e ganha destaque em ranking da OCDE
set, 28, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202339
O saldo comercial do Brasil no acumulado até a quarta semana de setembro ficou em quase US$ 70 bilhões (US$ 69,6 bilhões), acima dos US$ 61,53 bilhões de todo o ano de 2022, o que indica novo resultado recorde para este ano, capaz de fazer o país galgar postos nas classificações internacionais de superávits comerciais. O Brasil estava em sexto lugar no ranking de janeiro a junho nos dados mais recentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com 46 países. Em 2022 o Brasil foi o oitavo na classificação e em 2019, período pré-pandemia, era o 11º.
Tatiana Prazeres, titular da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), destaca que 2023 está sendo muito positivo para a balança comercial brasileira e que o órgão deve reestimar para cima os US$ 85 bilhões em superávit projetados para o ano atualmente, dentro da revisão trimestral habitual feita pelo órgão. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta superávit de US$ 92 bilhões a US$ 93 bilhões. Welber Barral, sócio da BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior, estima atualmente que o saldo possa chegar a US$ 95 bilhões.
“Claro que não é possível chegar perto da China, que não tem concorrência, mas dado o resultado do ano até agora, é possível que o Brasil suba mais ainda no ranking de superávits comerciais”, diz José Augusto de Castro, presidente da AEB. Segundo a classificação da OCDE, a China é líder inquestionável no superávit comercial, com US$ 498,36 bilhões de janeiro a junho deste ano. Em segundo vem a Alemanha, com US$ 99,73 bilhões, seguida pela Rússia, com US$ 59,7 bilhões. Além dos membros da organização, o ranking da OCDE inclui, entre outros, parceiros considerados estratégicos, como África do Sul, Índia e Indonésia, sendo que Brasil e China estão entre eles.
Castro destaca que o avanço de superávit neste ano vem de exportações praticamente estáveis e queda nas importações. No acumulado até a quarta semana de setembro, pelos dados da Secex, o valor exportado pelo Brasil ficou praticamente estável, com alta de 0,6% em relação a igual período do ano passado. Na mesma comparação, a importação recuou 11,1%.
Prazeres ressalta que a queda nas importações é dada preponderantemente por preços. Os dados do acumulado de janeiro a agosto da Secex mostram que o desembolso com importações caiu 10,4% contra iguais meses do ano passado. com queda de 8,1% em preços e volume praticamente estável, com recuo de 0,3% contra iguais meses do ano passado. “Isso mostra que o preço pago é menor para praticamente a mesma quantidade de importações. Isso acontece porque partimos de 2022, quando tivemos nível elevado de preços.” Entre os produtos importantes da pauta de importação brasileira deste ano com queda de preço, a secretária cita óleos combustíveis e adubos e fertilizantes, com quedas de 21,3% e de 43%, respectivamente, nos mesmos oito meses.
Herlon Brandão, diretor de planejamento e inteligência comercial da Secex, lembra que a queda de importação não foi exclusividade brasileira. Os dados do ranking da OCDE mostram que a importação da China caiu 6,6% de janeiro a junho deste ano contra igual período de 2022 enquanto a exportação chinesa caiu 2,3%. A importação alemã também caiu 5,2%, com aumento de 2,2% nos embarques.
No Brasil, diz Prazeres, a exportação apresentou dinamismo diferente da importação em termos de volumes e preços. “A despeito da queda de preços puxada pelas commodities, o aumento de quantidade mais do que compensou esse efeito preço.” Pelos dados da Secex, a exportação brasileira ficou praticamente estável de janeiro a agosto, com alta de 0,3% contra iguais meses de 2022. Os preços caíram 8,1%, mas o volume subiu 10,4%. As exportações brasileiras de janeiro a agosto foram puxadas principalmente por soja, com fatia de 19% do valor total embarcado, seguida por petróleo, com 11% e por minério de ferro e seus concentrados, em 8,4%. Todos os três produtos, pelos dados da Secex, sofreram queda de preços médios de exportação, mas cresceram em volume.
“Os superávits têm sido garantidos pelas commodities e devem continuar dessa forma no curto e médio prazos”, diz Castro, embora as perspectivas mostrem mudanças no dinamismo do comércio global. Por enquanto o Brasil ainda não aproveitou o espaço deixado pela China nos EUA, mercado no qual a exportação do país asiático perdeu este ano a liderança para o México. De janeiro a julho deste ano os embarques chineses aos americanos caíram 24,8% enquanto a dos mexicanos avançou 5%. As vendas do Brasil aos EUA encolheram 1,3%.
Os dados da OCDE também mostram que, embora figure na classificação dos maiores superávits, o Brasil ainda é o 18º maior exportador. Nesse ranking, a China também lidera, com US$ 1,8 trilhão embarcado de janeiro a junho, seguida por Estados Unidos, com US$ 1 trilhão, e Alemanha, com US$ 848,5 bilhões.
Barral lembra que este ano houve fatores conjunturais que permitiram o superávit, como a contribuição do setor agrícola, com safra recorde, e preços de commodities que, apesar do ajuste, ainda estão relativamente altos. Para o ano que vem, avalia, já não se espera um novo recorde, porque já estão em perspectiva o desafio enfrentado pela economia chinesa e a recuperação de concorrentes brasileiros, entre outros. “Provavelmente não teremos novo recorde, mas teremos ainda um saldo robusto.”
“Não podemos esquecer também que há aumento de superávit em 2023, mas a corrente de comércio do país deve ser menor”, diz Castro. Em 2022, a corrente de comércio brasileira, soma das exportações e importações, considerado indicador do dinamismo comercial, foi recorde, de US$ 606,75 bilhões. Para este ano a AEB projeta total perto de R$ 560 bilhões. No acumulado até a quarta semana de setembro, pela Secex, a corrente de comércio somou US$ 423,93 bilhões, 4,6% menor que a de igual período de 2022.
(Reportagem de Marta Watanabe, Álvaro Fagundes).
Fonte: Valor Econômico
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