Trocas comerciais Brasil-EUA crescem e caminham para novo recorde
abr, 18, 2022 Postado porSylvia SchandertSemana202217
Após o recorde das trocas comerciais Brasil-EUA em 2021, a expectativa da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) era de um crescimento mais moderado em 2022, mas os dados do primeiro trimestre voltaram a surpreender para cima, reforçando a visão de que, apesar das incertezas, novos recordes podem ser alcançados neste ano.
Entre janeiro e março de 2022, a corrente de comércio (soma de exportações e importações) dos países atingiu US$ 19 bilhões, um incremento de 40,2% ante o mesmo período de 2021 e o maior valor para um primeiro trimestre de toda a série, iniciada em 1989.
“Tínhamos a perspectiva de que as trocas comerciais Brasil-EUA continuariam crescendo em 2022, mas que seria relativamente moderado, porque as incertezas são consideráveis, em razão da inflação global, da pandemia, da possível desaceleração da China e de eventos geopolíticos e climáticos que afetem a economia mundial. Mas esse primeiro trimestre veio com força”, diz Abrão Árabe Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil.
O aspecto mais positivo, segundo ele, é que houve crescimento tanto nas exportações do Brasil para os americanos quanto nas importações brasileiras a partir dos EUA. “Nas duas vertentes, vimos, para primeiro trimestre, os melhores valores já registrados.”
As exportações brasileiras para os EUA cresceram 35,9% nos três primeiros meses de 2022, ante igual período de 2021, atingindo US$ 7,6 bilhões. Já as compras brasileiras dos EUA somaram US$ 11,4 bilhões, alta de 43,2%.
Do lado da exportação, o crescimento foi disseminado, presente em nove dos dez principais produtos da pauta. Em termos absolutos, a maior contribuição foi do petróleo bruto, cuja venda, que representa mais de 10% das exportações totais aos EUA, cresceu quase 167% no período. O ganho se deu pelo aumento dos preços (48,5%), mas, principalmente, pelo dos volumes (79,5%), observa Árabe Neto. Semiacabados de ferro e aço continuam dominando a pauta com participação de quase 14%, mas tiveram um crescimento menor no primeiro trimestre, de 4,4%.
Outro destaque é a exportação de carne bovina, que ainda representa apenas 3% das vendas brasileiras aos EUA, mas cujo crescimento no primeiro trimestre foi de 725,5%, tornando o Brasil o principal fornecedor dos americanos, à frente de Canadá, México e Austrália, segundo a Amcham.
“Houve interrupção em 2017, quando surgiram questões sanitárias e o mercado americano se fechou. Em 2020, ele foi reaberto e vinha crescendo já no fim do ano passado”, diz Árabe Neto. “Nossa capacidade produtiva no setor é muito elevada, nossa competitividade também. Estamos muito bem posicionados e é uma boa novidade que começamos a ver se consolidar no comércio bilateral.
Veja abaixo o histórico das exportações brasileiras de contêineres para os EUA de janeiro de 2019 a fevereiro de 2022. Os dados são do DataLiner.
Exportação brasileira de contêineres para os EUA |Jan 2019 – Fev 2022| TEU
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Do lado da importação de produtos americanos no Brasil, o crescimento também não foi localizado, com ganhos em oito dos dez principais itens da pauta. Alguns fatores conjunturais que contribuíram para o recorde do ano passado persistem, como a compra de gás natural para alimentar termelétricas, que cresceu 263,9% no primeiro trimestre de 2022, somando US$ 2,1 bilhões. Neste caso, o crescimento se explica mais pelo aumento dos preços (232,5%) do que da quantidade importada (9,4%).
Ainda que o Operador Nacional do Sistema (ONS) já tenha sinalizado uma bandeira tarifária verde na conta de luz ao longo do ano, indicando que não será necessário o acionamento em massa de termelétricas, a visão da Amcham é que a demanda por gás natural dos EUA deve continuar aquecida no primeiro semestre. “Pode ser que, no segundo semestre, tenha arrefecimento. Mas, se houver redução de volume, é possível que os valores continuem altos”, diz Árabe Neto.
A demanda brasileira por outros produtos energéticos dos EUA – como óleos combustíveis e brutos de petróleo e o carvão – continuou elevada no início de 2022. E Árabe Neto chama a atenção ainda para um crescimento de mais de 90% nas compras de fertilizantes, reflexo do acesso dificultado aos insumos agrícolas da Rússia, em meio à guerra na Ucrânia.
A Amcham refuta o discurso de que o conflito no Leste Europeu pode ser uma oportunidade parar as trocas comerciais Brasil-EUA, porque, no agregado, as consequências para a economia global e o comércio mundial são negativas, diz Árabe Neto. Mas ele reconhece que setores energéticos (petróleo, gás, carvão), siderúrgicos e de insumos agrícolas podem ser impactados no sentido de aumento do comércio, seja pelo fator preço, seja pelo maior volume.
Fonte: Valor Econômico
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