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Regras de Comércio

Trump suspende tarifas mais altas por 90 dias, mas aplica 125% à China

abr, 10, 2025 Postado porDenise Vilera

Semana202515

Em uma reviravolta surpreendente, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou ontem a redução, por 90 dias, das pesadas tarifas que acabara de impor a dezenas de países. Ao mesmo tempo, o presidente aumentou ainda mais a pressão sobre a China, elevando as tarifas para 125%.

O anúncio inesperado de Trump ocorreu cerca de 13 horas após a entrada em vigor de altas tarifas sobre 56 países e a União Europeia (UE), alimentando a turbulência no mercado e o medo de recessão. Trump enfrentou forte pressão de líderes empresariais e investidores para reverter a situação.

“Achei que as pessoas estavam se descontrolando um pouco”, disse Trump a repórteres na Casa Branca ontem, quando questionado sobre o motivo de seu recuo. “Elas estavam ficando um pouco agitadas, um pouco assustadas.”

O presidente anunciou sua decisão na sua rede Truth Social por volta das 13h18 de ontem, afirmando que mais de 75 países haviam entrado em contato com seu governo para negociar barreiras comerciais e que não haviam retaliado suas tarifas “de forma alguma”. “Autorizei uma SUSPENSÃO de 90 dias e uma Tarifa Recíproca substancialmente reduzida durante este período, de 10%, também com efeito imediato”, escreveu Trump.

Os mercados de ações reagiram com euforia, registrando a maior alta desde 2008. O índice S&P 500 subiu 9,5%, enquanto o Nasdaq, com forte presença de empresas de tecnologia, subiu 12%. “Estamos tendo um bom dia no mercado de ações, como vocês podem ver, um dia recorde, e espero que continue assim”, disse o presidente mais tarde no Salão Oval.

O presidente também disse que “vai analisar” isenções tarifárias para algumas empresas americanas e decidirá isso “por instinto”. “Algumas empresas, sem culpa própria, atuam em um setor mais afetado. É preciso ser capaz de mostrar um pouco de flexibilidade, e eu consigo fazer isso.”

Economistas do Goldman Sachs até reverteram sua previsão de recessão nos EUA, embora os analistas do banco de investimentos ainda vejam a incerteza política como um fator que levará a uma forte desaceleração econômica este ano.

“Hoje [ontem] mais cedo, antes do anúncio do presidente Trump, havíamos mudado para um cenário base de recessão em resposta às tarifas adicionais específicas para cada país que entraram em vigor esta manhã”, afirmou a equipe do Goldman Sachs, liderada por Jan Hatzius, em nota. “Estamos agora retornando à nossa previsão anterior de
cenário sem recessão.”

O presidente suspendeu a aplicação das tarifas elevadas diante da intensa pressão criada pelos mercados financeiros voláteis, mesmo com alguns funcionários do governo insistindo que essa suspensão era parte do plano.

Com a queda das ações e dos títulos do Tesouro americano, os americanos estavam vendo suas economias para a aposentadoria encolherem, enquanto as empresas alertavam para queda nas vendas e mais pressão nos preços.

A economia global parecia estar em rebelião aberta contra as tarifas, um sinal de que o presidente dos EUA não estava imune às pressões do mercado. Trump disse que vinha monitorando o mercado de títulos e que as pessoas estavam “ficando um pouco nervosas”, com a queda dos preços dos títulos e as taxas de juros apontando a desconfiança dos investidores nos planos tarifários anteriores do governo.

“O mercado de títulos é muito complicado”, disse Trump. “Eu estava observando. Mas se você olhar agora, está lindo — o mercado de títulos agora.”

O presidente disse mais tarde que vinha pensando em suspender as tarifas nos últimos dias, em discussões com o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário do Comércio, Howard Lutnick, e que a decisão foi tomada no início da manhã de ontem, “bem cedo”.

Questionado sobre o motivo pelo qual assessores da Casa Branca vinham insistindo há semanas que as tarifas não faziam parte de uma negociação, Trump respondeu: “Muitas vezes, não é uma negociação, até que vira uma negociação.”

Os países atingidos pelas tarifas recíprocas mais altas e que entraram em vigor ontem agora serão tributados à alíquota básica de 10% aplicada a outras nações por 90 dias, com exceção da China, segundo informou uma autoridade da Casa Branca.

A alíquota mínima é significativamente menor do que a tarifa de 20% que Trump havia imposto a produtos da UE, de 24% para importações do Japão e 25% para produtos da Coreia do Sul. Ainda assim, os 10% representa um aumento nas tarifas cobradas anteriormente pelos EUA. Canadá e México continuarão a ser tarifados em até 25% devido a uma diretiva separada de Trump para supostamente interromper o contrabando de fentanil.

As tarifas americanas sobre aço, alumínio e automóveis também permanecem em suas alíquotas atuais de 25%, disse essa autoridade da Casa Branca.

As importações da UE também estão sujeitas a uma tarifa de 10%, embora o bloco tenha anunciado retaliações sobre as tarifas de metais, já que as medidas da UE ainda não foram implementadas, acrescentou essa autoridade.

Trump reiterou mais tarde ontem que pretende avançar com outras tarifas sobre setores como o de medicamentos, dizendo: “Vamos impor tarifas às empresas farmacêuticas, e todas elas vão querer voltar”.

Investidores e observadores agora voltarão a atenção para a China e se Pequim também aumentará suas tarifas ou sinalizará alguma abertura para negociações. Trump disse que não acredita que precisará aumentar a taxa para forçar negociações com a China. “Não acho que precisaremos fazer isso novamente”, disse ele.

A decisão de Trump de aumentar ainda mais os impostos sobre produtos chineses ocorreu depois que Pequim anunciou planos de retaliar com uma tarifa de 84% sobre produtos americanos, prevista para entrar em vigor hoje.

Washington tem como alvo específico a China por suas práticas comerciais e sua abordagem combativa aos planos do presidente.

“Com base na falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais, estou aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato”, disse Trump em uma publicação nas redes sociais.

Mais tarde, Trump previu que o presidente chinês, Xi Jinping, ou sua equipe irão se sentar à mesa de negociações com os EUA, apesar da postura desafiadora. “Receberemos um telefonema em algum momento e começaremos a negociação”, disse Trump. “Será ótimo para eles. Será ótimo para nós. Será ótimo para o mundo e para a humanidade.”

Porém, analistas apontam que Trump deixou pouca margem para negociar uma saída com a China, a menos que o país capitule — o que seria um anátema para Xi. “Xi não será forçado a telefonar”, disse Sun Yun, diretora do programa para a China no think tank Stimson Center, com sede em Washington. Apenas uma vez na história recente, observou ela, um líder chinês telefonou para os EUA sem convite, isso foi após os ataques terroristas de 11 de setembro. As tensões comerciais, se não forem controladas, podem se espalhar para outras áreas, alertou ela.

Craig Singleton, pesquisador de China em outro think tank com sede em Washington, a Foundation for Defense of Democracies, concordou que um telefonema de Pequim é “improvável neste clima”. “Cada lado acredita que o tempo está a seu favor, o que aumenta o risco de que nenhum dos dois aja para reduzir a tensão até que o dano real seja causado”, disse ele. “Não se trata mais apenas de tarifas. É um teste de determinação.”

Trump apresenta suas tarifas abrangentes como uma ferramenta poderosa para reavivar a indústria nacional e fazer a economia dos EUA crescer, prometendo novas fábricas e empregos. Porém, a rápida mudança de estratégia levanta questões sobre se esse continua sendo o objetivo do presidente e como ele planeja alcançá-lo. O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, disse ontem que a reviravolta era uma vitória para Trump. Em entrevista coletiva na Casa Branca, ele afirmou que o presidente “criou a máxima alavancagem para si mesmo” em negociações com outras nações. Ele disse que falaria com autoridades do Vietnã, Japão, Índia e Coreia do Sul nos próximos dias.

Fonte: Valor Econômico  

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