Volume compensa queda de preço na exportação brasileira
fev, 07, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202406
Em meio à queda de preços, foi o aumento da quantidade exportada que propiciou elevação da receita de exportação brasileira em 2023 e contribuiu para o superávit comercial histórico. O volume de embarques bateu recorde no ano passado, quando acelerou tendência crescente que se firmou há mais de uma década. A curva deve seguir em alta, mas em ritmo menor, sem a magnitude da variação do ano passado. A expectativa é que os preços, após alta em 2021 e 2022 e devolução de parte do aumento no ano passado, sofram menor variação no decorrer de 2024.
O aumento de quantidade exportada no ano passado foi puxado pela China, com alta de 30% em relação a 2022. No ano passado destacou-se também o aumento de volume embarcado para o México, de 25,9%, o que contribuiu para o país subir da oitava para a quinta posição no ranking dos principais destinos brasileiros. Em variações bem menores a alta de volume aconteceu nos embarques a parceiros importantes, como Estados Unidos e Argentina, com altas respectivas de 5,8% e 7,9%. Nas vendas para a União Europeia, porém, o volume caiu 2,1%.
Em termos de valor, a China foi destino de 30,7% do que o Brasil exportou em 2023. Os EUA vieram em segundo, com 10,9%, e a Argentina, com 4,9%. O México, em quinto, ficou com 2,5%. Em quarto lugar ficou a Holanda, que é ponto de entrada de produtos para a União Europeia, bloco que absorveu 13,6% dos embarques.
Os preços médios das exportações totais brasileiras caíram 6,3% em 2023, mas a receita de exportação subiu 1,7% em relação a 2022 porque a quantidade embarcada cresceu 8,7%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic). Os dados mostram que em 2023 houve pico histórico do índice de quantum exportado. O recorde anterior havia sido em 2022, quando o volume exportado subiu 5,4% contra o ano anterior.
Impulsionadas por soja, minério de ferro e petróleo, as vendas à China lideraram o movimento. O valor total de vendas brasileiras ao país asiático em 2023 ultrapassou pela primeira vez a casa da centena de bilhões, atingiu US$ 104,3 bilhões e cresceu, na comparação com 2022, em 16,6%. A taxa quase dobrou para a quantidade, que cresceu 29,5%.
O gráfico a seguir compara o volume de milho e soja embarcados através dos portos marítimos brasileiros para a China nos primeiros onze meses de 2023, segundo o serviço de dados DaLiner.
Exportações de Milho e Soja para a China | 2023 | WTMT
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
A magnitude do aumento de volume mais que compensou a queda de 9,7% nos preços médios das vendas aos chineses. Os dados de preço e quantum de exportação são do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), levantado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) com base nos números da Secex.
Lia Valls, economista e coordenadora do Icomex, diz que o desempenho da China se explica pela pauta de exportação brasileira ao país asiático. Os chineses compraram 73% de toda soja que o Brasil exportou em 2023, além de 64% do minério de ferro e de 47% do petróleo bruto, segundo dados da Secex. Os três produtos representam 75% do valor da exportação brasileira total à China no ano passado.
O bom desempenho das exportações da agropecuária e do setor extrativo, diz Valls, vem pelo menos desde o final de 2010. A partir de 2017, o crescimento dos embarques da agropecuária se acelerou mais, com comportamento similar da atividade extrativa, embora com taxas de variações menores, aponta ela. Segundo dados do Icomex, de 2008 a 2023 o volume de exportação da agropecuária cresceu 10% na média anual e o da atividade extrativa, 5,2%. No ano passado, lembra, a safra recorde de grãos propiciou um aumento de volume maior, com alta de 25% na quantidade exportada da agropecuária em relação a 2022. A indústria extrativa avançou 16,5% na mesma comparação. Em sentido inverso, o volume exportado na indústria de transformação caiu 0,4%.
Valls destaca que o desempenho da balança como um todo também depende das importações. No ano passado, frisa, o superávit comercial de US$ 98,8 bilhões resultou também de queda muito grande no déficit comercial da balança da indústria de transformação, que caiu de US$ 57,2 bilhões em 2022 para US$ 37,7 bilhões em 2023. A economista ressalta que esse movimento se deu sobretudo pela queda no valor importado em bens industriais.
O desempenho dos embarques aos chineses em 2024, diz Valls, dependerá muito do ritmo de crescimento econômico do país asiático. A China, aponta, sempre usou os investimentos como forma de ativar a economia, mas problemas fiscais podem afetar essa política. A safra agrícola de grãos brasileira deve ser importante em 2024, mas deve ficar aquém da de 2023, o que também vai limitar os embarques. De qualquer forma, diz, a expectativa é que a China mantenha crescimento econômico, embora as estimativas do mercado estejam abaixo da meta de 5% de alta do PIB do governo chinês para 2024. “Há muita incerteza, mas o que se espera é um crescimento menor dos volumes.” A grande variação de quantidade em 2023 aconteceu, explica, porque as bases de anos anteriores estavam mais baixas, com quedas de volumes exportados à China em 2021 e 2022
De forma diversa às vendas à China, os embarques rumo aos Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do Brasil, apresentaram números mais modestos em 2023. A quantidade embarcada aos americanos aumentou 5,8% em 2023 contra o ano anterior, mas não foi suficiente para compensar a queda de preços médios de 6,8%, o que levou à redução de 1,5% no valor vendido aos EUA.
O cenário para os Estados Unidos se explica pela pauta de exportação brasileira aos americanos, com maior diversificação de produtos e na qual predominam os bens industrializados, diz Welber Barral, sócio da consultoria BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior. Segundo a Secex, óleo bruto de petróleo, produtos semi-acabados de ferro e aço e aeronaves e suas partes foram os três itens mais exportados aos americanos em 2023, responsáveis por 31,4% do valor vendido pelo Brasil aos EUA no ano passado.
Já para os argentinos, terceiro maior destino das vendas externas brasileiras, a situação foi ainda mais diferente, com alta tanto em preços quanto em quantidade, que subiram 1,8% e 7,9% em 2023 contra o ano anterior, respectivamente. O resultado foi alta de 8,9% na receita exportada aos vizinhos. Barral lembra que esse resultado foi fortemente influenciado no ano passado por embarques atípicos da soja brasileira ao país vizinho. Isso aconteceu porque houve quebra de safra do grão na Argentina e os exportadores locais tiveram que comprar soja brasileira para honrar contratos de exportação. Em 2023 o Brasil embarcou US$ 2 bilhões em soja aos vizinhos. Em 2022 foram apenas US$ 181 milhões. Esse nível de exportação de soja aos argentinos não deve se repetir em 2024, avalia Barral. O grão representou 12% do valor embarcado aos argentinos no ano passado, fatia igual a das partes e acessórios automotivos. Em terceiro ficaram os veículos para passageiros, com 8,4%. Ao mesmo tempo, diz Valls, ainda há muita incerteza do cenário da economia argentina, o que pode afetar a demanda por exportações brasileiras.
Dentre os maiores destinos brasileiros, o México se destacou no ano passado. Os embarques aos mexicanos subiram 25,9% em quantidade, o que compensou a queda de 3,2% nos preços e propiciou alta de 21,6% na receita de exportação. Dados da Secex mostram que as exportações para os mexicanos cresceram puxados por manufaturados como automóveis e veículos para transporte de mercadorias, cujos valores de embarque subiram mais de 60% em 2023 contra o ano anterior. Mas o efeito soja também apareceu nas vendas aos México. O valor exportado aos mexicanos do grão brasileiro subiu 87,8% em 2023 contra 2022. Os três itens, somados, representaram no ano passado 28,4% do valor exportado pelo Brasil ao México em 2023.
“Há muitas incertezas, mas essa tendência de exportação de commodities deve perdurar durante algum tempo, a menos que tenhamos um choque muito grande, mas não devemos ter a mesma variação do ano passado. Agora também está entrando a produção de petróleo”, diz Valls. Segundo o Icomex, o volume de commodities exportados em 2023 aumentou 14,2% contra 2022. A quantidade exportada no grupo de não commodities caiu 1,9%.
Bruno Cordeiro Santos, analista de mercado da StoneX, diz que as perspectivas são de que, puxado pelo pré-sal, o aumento de produção de petróleo esperado até 2029 resulte em alta no volume de exportação, já que a capacidade doméstica de refino não deve aumentar na mesma proporção. As estimativas da consultoria para a produção de petróleo vão em linha com as oficiais, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), diz. Considerando os investimentos divulgados da Petrobras e das empresas privadas, ressalta ele, a expectativa é que a produção brasileira atinja cerca de 5 milhões de barris diários ao fim desta década.
Fonte: Valor Econômico
Para ler a matéria original, acesse: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/02/06/volume-compensa-queda-de-preco-na-exportacao-brasileira.ghtml
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