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Retrospectiva do desempenho das commodities brasileiras em 2020

dez, 29, 2020 Postado porSylvia Schandert

Semana202053

A desvalorização do real frente ao dólar e a mudança de consumo causada pela pandemia da Covid-19 resultaram em um ano muito favorável às exportações brasileiras de commodities. O Brasil exportou muito e esqueceu do mercado interno. Para conter as altas dos preços, o governo precisou zerar o imposto de importação de produtos básicos, como arroz e milho, o que causou situações incomuns, como a importação de soja americana. Confira a seguir como foi o ano para as commodities que mais se destacaram no cenário internacional em 2020:

Açúcar e Etanol: O açúcar teve um desempenho muito positivo em 2020. Segundo o 3º Levantamento da Safra 2020/21 de Cana-de-Açúcar, divulgado em dezembro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de cana-de-açúcar da atual safra, 665,105 milhões de toneladas, se aproxima do recorde histórico de 2015, quando foram colhidas 665,6 milhões de toneladas de cana. Na comparação com a temporada passada, o crescimento é previsto em 3,5%. As exportações de açúcar somaram 23,7 milhões de toneladas nos oito primeiros meses desta safra 2020/21 (abril a novembro), 79,2% mais que no mesmo período de 2019/20. Em relação a todo o ciclo passado, o volume já foi 25% maior. Segundo a estatal, nesse ritmo a expectativa é que seja superado o recorde de 2016/17, quando os embarques brasileiros alcançaram 28,3 milhões de toneladas.

As exportações aquecidas geraram problemas logísticos. Em junho, a espera para carregamento de açúcar em terminal da Rumo no Porto de Santos chegou a 45 dias, de acordo com a agência marítima Cargonave. Para base de comparação, em igual período de 2019, o tempo médio no aguardo era de cinco a sete dias.

Para driblar esses problemas, algumas soluções alternativas foram adotadas. Após 15 anos, o Porto de São Sebastião, localizado no litoral norte de São Paulo, voltou a realizar operações de transporte de açúcar. Além disso, após o hiato de uma década, foram realizadas operações de exportação break-bulk de açúcar do Porto de Santos, já que os terminais que operam em contêineres estavam saturados.

Segundo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, o crescimento das exportações se deve ao grande excedente exportável de açúcar do país e à demanda estável de países importadores do adoçante brasileiro. “Apesar da pandemia de Covid-19 e dos obstáculos logísticos nos portos, incluindo longas esperas para carregamento, a desvalorização significativa do real frente ao dólar manteve o produto brasileiro competitivo”, diz o relatório.

Acompanhe no gráfico a seguir o histórico das exportações brasileiras de açúcar mês a mês:

Exportação Brasileira de Açúcar (HS 1701) | Jan 2015 a Out 2020 | WTMT

Fonte: DataLiner

Em relação ao etanol, em setembro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou uma cota que permitiu a importação de 187,5 milhões de litros de etanol isentas da Tarifa Externa Comum (TEC) de 20% por 90 dias, um adendo à cota anual de 750 milhões de litros que havia vencido no fim de agosto.

A medida, criada sob medida para os produtores americanos para agradar o presidente Donald Trump em plena corrida eleitoral, perdeu a validade em dezembro, e não foi renovada. Isso porque o Itamaraty não obteve avanços nas negociações para ampliar a entrada de açúcar brasileiro nos Estados Unidos, e a derrota de Trump nas eleições americanas esfriou de vez as conversas sobre o assunto.

Café: apesar de ter registrado bons números de exportação, os problemas logísticos também atrapalharam os embarques de café em 2020. Dados da Datamar indicam que houve um desequilíbrio de quase 80 mil unidades na movimentação de contêineres no Brasil em agosto. Foram quase 251 mil contêineres deixando o país e apenas 172 mil chegando. Em janeiro, eram registradas as chegadas de 216 mil contêineres e a partida de 201 mil. E o café, diferente de outras commodites, é exportado em contêineres. A desvalorização do real, assim como a pandemia causada pelo novo coronavírus impulsionaram um forte fluxo de exportações, mas reduziram significativamente as importações.

O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, Nelson Cavalhaes afirmou que em setembro, apesar de registrar bons números,  “os resultados das exportações poderiam ter sido ainda melhores, na ordem de 10 a 15%, se não fossem os problemas logísticos de falta de contêineres e espaço nas embarcações”.

Carnes: as exportações de carnes estiveram aquecidas em 2020 motivadas tanto pelo dólar competitivo como também pela escassez de proteínas na China, que enfrentou problemas com a gripe suína africana, que matou muitos porcos e reduziu a oferta interna de carnes.

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), no acumulado dos 11 primeiros meses do ano, as exportações de carne de frango mantiveram alta de 0,69%, com 3,849 milhões de toneladas embarcadas entre janeiro e novembro de 2020 e 3,823 milhões de toneladas no mesmo período de 2019. Apesar disso, a receita em dólares acumulada no período é de US$5,543 bilhões, número 12,8% menor em relação ao registrado em 2019, com US$6,358 milhões.

Em relação à carne suína, no acumulado de 2020 (janeiro a novembro), as vendas internacionais desta proteína chegaram a 940,9 mil toneladas, número 39,5% maior que o total embarcado no mesmo período de 2019, com 674,2 mil toneladas. E, pela primeira vez na história, as exportações de carne suína do Brasil ultrapassaram a casa de dois bilhões de dólares, chegando a US$ 2,079 bilhões, número 47,1% maior que os US$ 1,413 bilhão realizados entre janeiro e novembro de 2019.

Na avaliação do presidente da ABPA, Ricardo Santinassim como em 2019, a crise sanitária da gripe suína africana que impactou o rebanho suíno da Ásia, de parte da Europa e da África seguiu impulsionando as exportações brasileiras de aves e de suínos. “As nações asiáticas se consolidaram como principais importadoras das carnes de aves e de suínos do Brasil, e foram os principais vetores do resultado do ano nos dois setores”, explica.

Já no caso da carne bovina, estimativas da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) apontam que o Brasil deve exportar 2,2 milhões de toneladas de carne bovina até o fim deste ano. A previsão é 8,8% maior do que o total de 2019. A Abiec representa 32 empresas do setor.

Caso a estimativa se confirme, as exportações da proteína devem encerrar o ano com faturamento de US$ 8,53 bilhões, 11,8% acima do atingido no ano passado. De janeiro a novembro, as vendas somaram 1,84 milhão de toneladas, superando em 9% o volume registrado nesse intervalo, em 2019. Ao longo dos últimos onze meses, o faturamento cresceu 13,9%, chegando a US$ 7,76 bilhões.

Apesar dos bons números, o ano também ficou marcado pela suspensão das exportações de diversos frigoríficos à China e Hong Kong, que afirmaram ter encontrado traços do coronavírus nas embalagens de carnes importadas, suspendendo temporariamente as licenças de algumas plantas, que, depois, foram revertidas. A China ainda solicitou uma maior atenção não só do Brasil, como demais fornecedores de carne, para desinfecção de embalagens e contêineres. As Filipinas e a Indonésia também chegaram a colocar embargos à carne brasileira.

Em 2020, também, ocorreram algumas aberturas de mercado para proteínas brasileiras: o México abriu mercado aos ovos brasileiros, Myanmar à carne suína, Egito aos termoprocessados de aves, Tailândia à carne bovina e de miúdos e os Estados Unidos à carne bovina in natura. Além disso, a Coreia do Sul passou a importar camarão brasileiro.

O gráfico a seguir traz o histórico das exportações brasileiras de carnes mês a mês:

Exportações Brasileiras de Carnes (HS 0202, 0203 e 2007) | Jan 2017 a Out 2020 | TEU

Fonte: DataLiner

Arroz: o cereal deu o que falar em 2020 por conta do alto preço que chegou às prateleiras dos supermercados brasileiros. O Brasil exportou tanto arroz que prejudicou o abastecimento interno. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) apontam que as exportações brasileiras de arroz (base casca) somaram 153,57 mil toneladas em outubro, volume 84% maior que no mesmo mês de 2019 (83,57 mil). No ano comercial do arroz (março-outubro), o Brasil exportou 1,54 milhão de toneladas do cereal, ante 852,24 mil um ano antes. Ainda de acordo a Abiarroz, as exportações de arroz (base casca) alcançaram 1,69 milhão de janeiro a outubro, ante 1,08 milhão em igual período de 2019.

Para conter a alta do produto no mercado interno, o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu zerar a alíquota do imposto de importação para o arroz em casca e beneficiado até dia 31 de dezembro. A redução temporária do imposto de importação do arroz está restrita à quota de 400 mil toneladas, incidente no produtos abarcados pelos códigos 1006.10.92 (arroz com casca não parboilizado) e 1006.30.21 (arroz semibranqueado ou branqueado, não parboibilizado) da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).

Confira a seguir o histórico das importações e exportações brasileiras de arroz a partir de 2017:

Movimentação Brasileira de Arroz (HS 1006) | Jan 2017 a Out 2020 | WTMT

Fonte: DataLiner

Soja e milho: a soja foi outra commodity que o Brasil exportou em abundância em 2020, principalmente para a China. Dados divulgados pela Alfândega Chinesa em outubro apontam que a China importou, em setembro, 51,4% mais soja brasileira do que no mesmo mês do ano anterior. Foram importadas 7,25 milhões de toneladas da oleaginosa do Brasil em setembro, ante 4,79 milhões de toneladas no mesmo período de 2019, segundo o órgão.

Como no caso do arroz, a demanda externa causou o desabastecimento interno.

Para equilibrar oferta e demanda dos grãos no mercado interno e conter a alta dos preços, o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu zerar a alíquota do imposto de importação para soja e milho. No caso de soja, a redução temporária será válida até 15 de janeiro de 2021 e abarca os códigos NCMs 1201.90.00, 1507.10.00 e 2304.00.10, que se referem, respectivamente, a grão, farelo e óleo de soja. Quanto ao milho (NCM 1005.90.10), o produto foi incluído na Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec), com redução de 8% para 0%, válida até 31 de março de 2021.

O aumento pela demanda mundial de alimentos, ocasionado pela ocorrência da pandemia da Covid-19, gerou reflexos semelhantes, mas com motivações diferenciadas, nos mercados relativos a essas duas commodities. No caso do milho, houve um aumento no consumo interno para abastecer a produção de proteína animal, que registrou crescimento nas exportações. Movimento que já vem sendo registrado nas últimas duas décadas, a uma taxa de 14,3% ao ano. No caso da soja e derivados, como farelo e óleo, também houve aumento nas vendas externas que ganharam impulso com a valorização do dólar.

O gráfico a seguir traz o histórico das exportações brasileiras de soja a partir de 2017:

Exportação Brasileira de Soja (HS 1201) | Jan 2017 a Out 2020 | WTMT

Fonte: DataLiner

Já a abaixo estão os volumes de milho exportados pelo Brasil a partir de 2017:

Exportação Brasileira de Milho (1005) | Jan 2017 a Out 2020 | WTMT

Fonte: DataLiner  (Para solicitar um demo do DataLiner clique aqui)

Com a isenção de impostos, cresceram as importações de soja. O Brasil importou até soja americana, o que é uma situação incomum. Dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), apontam que, em novembro, as importações brasileiras de soja alcançaram 122,4 mil toneladas, 20 vezes mais que em novembro de 2019 (6 mil toneladas). As compras custaram US$ 49,2 milhões, ante US$ 1,9 milhão um ano antes, já que o valor médio da tonelada adquirida subiu de US$ 328,8 para US$ 402,4.

De janeiro a novembro, as importações somaram 748 mil toneladas, ante 131 mil nos 11 primeiros meses do ano passado. Conforme a Secex, o valor das compras chegou a US$ 245 milhões, quase seis vezes maior que no mesmo período de 2019 (US$ 41,1 milhões).

Já a importação brasileira de óleo de soja aumentou mais de 8.000% em novembro, com a Argentina ofertando a maior parte do que o Brasil comprou no mercado internacional para fazer frente a uma escassez de matéria-prima.

 

 

 

 

 

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