Executivos veem protecionismo em bloqueio saudita a frigoríficos
maio, 10, 2021 Postado porandrew_lorimerSemana202120
A mais nova restrição da Arábia Saudita contra a carne de frango brasileira abriu uma temporada de rumores entre os exportadores sobre os motivos para justificar o bloqueio de 11 frigoríficos, responsáveis por mais de 60% dos embarques ao país. Alguns exportadores trabalham com a possibilidade de que os sauditas vão alegar que encontraram salmonela em lotes do produto importado do Brasil.
“Existe essa conversa, mas é extra oficial. É uma suspeita do pessoal, mas ainda sem notificação”, disse uma fonte que lida diretamente com os importadores. Diante das suspeitas, o adido agrícola do Brasil na Arábia Saudita emitiu um comunicado ao governo relatando a suspeita dos exportadores brasileiro sobre as motivações sauditas. A “Globo Rural” foi o primeiro veículo a divulgar informações sobre a comunicação do adido.
Entre executivos da indústria brasileira, ninguém tem dúvidas de que as reais motivações da Arábia Saudita são protecionistas. Desde 2017, o país vem restringindo o acesso do frango brasileiro e de outras regiões para estimular a produção local. A autossuficiência no abastecimento de carne de frango é uma das metas do Visão 2030, o plano estratégico 2030, o plano estratégico do príncipe Mohammad bin Salman.
“Eles vinham ameaçando, pressionando para que houvesse investimentos em produção lá. Para mim, este é o motivo”, avaliou um executivo graduado. O timing da barreira saudita dá ainda mais elementos para as motivações protecionistas. No início da semana, a Almarai, uma das maiores produtoras de carne de frango da Arábia Saudita – e da qual o ministro o da Agricultura saudita, Abdulrahman Al Fadley, foi CEO -, anunciou um investimento de US$ 1,8 bilhão para dobrar a produção de carne de frango do país. No entendimento desse executivo, os sauditas apenas “acharam um jeito técnico – e difícil de contraprovar – para retaliar”.
Em Brasília, a decisão saudita provocou irritação. “O governo brasileiro recebeu com surpresa e consternação a decisão da Arábia Saudita de suspender 11 estabelecimentos exportadores de carne de aves para aquele mercado. Não houve contato prévio das autoridades sauditas, tampouco apresentação de motivações ou justificativas que embasem as suspensões”, informou nota conjunta do Itamaraty e do Ministério da Agricultura na última quinta-feira.
Fontes próximas aos exportadores brasileiros pedem cautela com as informações sobre salmonela. “Vamos esperar o relatório dos sauditas. O que circula não é que deu positivo para salmonela, mas que este seria o motivo”, disse uma delas. O tema da salmonela inspira cuidados porque nem sempre as detecções são bem compreendidas pelo público. A bactéria salmonela pode causar infecções intestinais, mas sua presença em si não é um problema. Quando exposta por 14 segundos à temperatura de 70 Cº, a bactéria morre. Até poucos anos, a prática do mercado era não aceitar que a prevalência da bactéria fosse maior que 20%. Não está claro se os sauditas reduziram os limites para justificar uma barreira técnica.
De qualquer forma, o bloqueio de 11 frigoríficos é um baque. Em 2020, o país respondeu por 11,3% das exportações brasileiras, só ficando atrás da China em importância. Os sauditas gastaram US$ 684,3 milhões para importar frango brasileiro no ano passado.
Entre as empresas, a JBS foi a mais atingida. A Seara, subsidiária da companhia, foi retirada do mercado saudita ao ter sete unidades bloqueadas. A gaúcha Vibra e a Agroaraçá também foram atingidas pelas restrições.
A BRF, líder no mercado do Oriente Médio, manteve quatro frigoríficos autorizados e não foi atingida pelas últimas restrições. No passado, porém, a companhia foi duramente afetada, com bloqueio de unidades e um embargo persistente sobre sua megafábrica em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Nesse contexto, a BRF adquiriu uma fábrica na Arábia Saudita em 2020, por US$ 8 milhões. No ano anterior, também havia assinado um memorando de entendimentos com a Saudi Arabian Investment Authority (Sagia) para investir US$ 120 milhões no país.
Procurada, a JBS informou “que está em contato com a Saudi Food and Drug Authority (SFDA), autoridade sanitária do governo da Arábia Saudita, para dialogar e entender as motivações para o bloqueio das exportações de carne de frango para o país”. A companhia reitera, em nota, que “segue todos os procedimentos determinados pela legislação e pelos órgãos reguladores, com qualidade e segurança. A produção antes destinada à Arábia Saudita já foi redirecionada para outros mercados”.
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