Donos do Cone e do Tecon Suape oferecem R$ 450 milhões por terreno do Estaleiro Atlântico Sul
jul, 22, 2022 Postado porSylvia SchandertSemana202229
Uma joint-bidder (espécie de consórcio de interesse para desenvolver um projeto específico) formado pelas empresas Conepar (que possui o controle das empresas Cone S/A e Convida Participações) e ICTSI Rio (empresa do mesmo grupo que que controla o Tecon Suape) ofereceu ao Estaleiro Atlântico Sul R$ 450 milhões por uma área colocada em leilão pela empresa.
O valor é 50% maior que o mínimo estabelecido pela empresa, que ofereceu dois terrenos de sua área como parte da estratégia de levantar recursos desfazendo-se de patrimônio para sair da Recuperação Judicial em que se encontra desde junho do passado, quando retomou suas atividades no Complexo Portuário de Suape. A oferta é para a área identificada como UPI-B Cais Sul.
Dentro das regras do leilão – que vem sendo objeto de disputas judiciais por, ao menos, três interessados na área – a empresa APM Terminais B.V. (APMT), integrante do grupo Maersk, pode, em até 72 horas, fazer uma oferta após o conhecimento da que foi apresentada pelo joint-bidder Conepar Tecon Suape.
Mas ela terá que ser maior que os R$ 450 milhões oferecidos pela UPI-B Cais Sul. Um segundo terreno, também do EAS e com área bem maior, não teve interessados.
A empresa APM Terminais B.V. (APMT), poderá fazer uma oferta maior porque a juíza Ildete Veríssimo de Lima, da 1ª Vara Cível da Comarca de Ipojuca, aceitou no processo que ela use o instrumento de Stalking Horse, que lhe dá preferência de após conhecida uma proposta em leilão, cobrir o valor.
No processo, que tramita na 1ª Vara Cível da Comarca de Ipojuca, ela ofereceu o valor mínimo de R$ 300 milhões.
Na abertura das propostas, o Administrador Judicial (Medeiros & Medeiros) recebeu após a abertura da proposta o questionamento dos advogados da APM Terminais se poderia haver uma proposta conjunta de dois participantes.
Ele pediu que fosse registrado o questionamento – que se será feito nos autos do processo de RJ – e que a juíza Ildete Veríssimo de Lima, da 1ª Vara Cível da Comarca de Ipojuca, analise sua demanda para só então a APM Terminais exercer o seu direito de Stalking Horse, para fazer uma contra-proposta em até 72 horas. A demanda do representante da APM Terminais será enviada pelo administrador judicial à juíza da causa.
Disputa de negócio
Com a estrada na disputa das empresas formadas pelos donos do Cone (que opera um hub de logística com 800 mil m² nas margens da BR-101 e na rodovia pedagiada PE-009, que dá acesso ao Porto de Suape) e o Tecon Suape, que opera há 20 anos um terminal de contêineres onde o grupo filipino ICTSI investiu R$ 800 milhões, estabeleceu uma disputa conceitual de investimentos.
A Maersk, através da APM Terminais B.V. (APMT), deseja implantar em Suape um Terminal de Uso Privativo (TUP) com o qual pretende concorrer com o Tecon Suape, que opera um terminal com movimentação de 500 mil cofres de cargas por ano, cujos preços são os mais caros do mercado brasileiro em função do que é obrigado por contrato ao Governo de Pernambuco, dono do Complexo Portuário de Suape.
Investimento de R$ 1,4 BI
Por outro lado, a companhia que deve surgir da aquisição desse terreno pretende implantar no mesmo terreno o que chamou de Tecone – Condomínio de Terminais Marítimos com investimentos estimados em R$ 1,4 bilhão, dividido em quatro eixos que servem aos interesses do Porto de Suape.
O projeto Tecone – já apresentado ao Porto de Suape – prevê na área do EAS um Terminal de gás (GNL e GLP) com capacidade de 115 m³, um terminal de armazenamento de líquidos com capacidade de 364 mil m³, um terminal de movimentação de cargas gerais de apoio com capacidade de 90 mil toneladas e ilha de serviços voltada para escritórios e apoio a empresas voltadas à exportação.
As duas empresas anunciaram que como já operam com projetos estruturados no mercado financeiro e plantas de plataformas de serviços, têm respaldo para não apenas pagar o valor de R$ 450 milhões, como desenvolver a plataforma Tecone.
Governo apoia a Maersk
Apesar dessa oferta, a joint-bidder deverá enfrentar a resistência do governo de Pernambuco – que se comprometeu publicamente em apoiar o projeto da Maersk na construção de um TUP.
Ainda que o objeto do negócio seja competir com um terminal já existente (Tecon Suape) que remunera ao Governo do Estado dois terços das receitas que o próprio Complexo Portuário de Suape arrecada por ano apenas em taxas e arredamento ao Tecon Suape.
O governo do Estado está disposto a abrir mão dessa receita em nome de um serviço com preços mais baixos que o Tecon Suape cobra e por estabelecer uma concorrência.
Com o TUP, a Maesrk pagará apenas as taxas de movimentação portuária, que somam menos de um terço do que o Tecon é obrigado a pagar ao complexo portuário de Suape. O TUP, por ser propriedade da Maersk, pode operar em Suape por tempo indeterminado.
Pelo projeto apesentado pelo consórcio Conepar ICTSI, o desenvolvimento do porto e suas novas atividades, na prática, apenas amplia as ofertas de serviços já existentes e que dão sinais de estrangulamento devido a novos investimentos.
Com ele, o Governo de Pernambuco teria uma receita de R$ 2 bilhões em tributos e os municípios do Cabo e Ipojuca, mais de R$ 40 milhões em impostos sobre serviços.
O projeto conceitual do Tecone diverge da Marsek, que se limita, ao menos na proposta apresentada, a construir um novo terminal de contêineres para competir em preços com o Tecon Suape, da qual é o principal cliente, sendo responsável por quase 60% das receitas totais que o terminal fatura.
A APM Terminais B.V. (APMT) pretende aproveitar a área para construir um terminal de contêineres usando como acesso ao mar dois cais que foram construídos pelo EAS e que exigirão serviços de dragagem para calado de até 15 metros para que os supernavios da companhia dona do novo terminal ancorem em Suape.
O governo de Pernambuco está disposto a investir a dragagem e ajudar a companhia.
Bom para acionista do EAS
O processo de venda dos terrenos do Estaleiro Atlântico Sul vem desde 2019, quando a empresa pediu o regime de Recuperação Judicial visando arrecadar fundos para pagar aos credores dívidas de R$ 1,2 bilhão. O BNDES, que emprestou R$ 1,0 bilhão aos grupos Carmago Correia e Queiroz Galvão, é o maior credor.
O EAS colocou duas áreas para levantar parte desses recursos. Uma que tem o cais e teve valor estimado em R$ 300 milhões, e outra maior contígua à primeira, mas sem acesso ao porto, no valor de R$ 595 milhões.
No leilão de novembro, nenhuma das duas, no valor total de R$ 895 milhões, teve interessados. Agora, apenas a que tem acesso ao mar recebeu propostas.
Esse resultado deverá ser homologado pela juíza Ildete Veríssimo de Lima na próxima semana, após a ATM se manifestar se está disposta a cobrir a oferta da joint-bidder Conepar ICTSI.
A disputa entre os dois pretendentes é muito interessante para os interesses dos grupos Carmago Correia e Queiroz.
Ao vender uma parte do terreno e manter o estaleiro funcionando, eles conseguem pagar parte do empréstimo ao BNDES e, portanto, reduzir o volume de garantias que deram por ocasião da construção do Estaleiro Atlântico Sul para obter o financiamento.
Apenas com a venda de um terreno, eles reduziram esse compromisso em mais da metade de sua dívida e, assim, livram-se do comprometimento de suas garantias. O valor de R$ 800 milhões pedido pelos dois terrenos é suficiente pagar mais de 80% de toda dívida com o BNDES.
Fonte: Jornal do Comércio
Para ler o texto original completo acesse: https://jc.ne10.uol.com.br/colunas/jc-negocios/2022/07/15048881-donos-do-cone-e-do-tecon-suape-oferecem-rs-450-milhoes-por-terreno-do-estaleiro-atlantico-sul.html
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