Exportações brasileiras via contêineres são extremamente baixas em fevereiro. É um mês fora da curva ou sinal de recessão substancial?
abr, 03, 2023 Postado porSylvia SchandertSemana202317
Dados do DataLiner recém-divulgados pela equipe de Business Intelligence da Datamar apontam que em fevereiro as exportações brasileiras via contêineres caíram 15% em volume em relação ao mesmo mês de 2022. Foram 186.151 TEUS enviados ao exterior em fevereiro de 2023, contra 216.795 TEUs no mesmo mês de 2022.
No acumulado do bimestre, a queda também foi de 15% em relação aos dois primeiros meses de 2022.
Confira a seguir um histórico das exportações brasileiras via contêineres de janeiro de 2019 até fevereiro de 2023. Os dados são do DataLiner:
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Commodities
Diversas mercadorias puxaram a queda das exportações em fevereiro. Entre elas, os destaques são o algodão (-62%), café (-27%), madeira (-19%) e carne bovina (-10%).
Sobre o algodão, dados do Cepea indicam que os valores da pluma de algodão estão enfraquecidos no mercado externo. Embora a paridade de exportação esteja sendo sustentada pela valorização do dólar, as cotações domésticas ainda remuneram mais do que as para exportação. Isso tem feito com que a negociação do algodão internamente seja mais atrativa do que exportá-lo.
Em relação ao Café, segundo o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, a baixa nos embarques do café se justifica pelo período de entressafra, após duas colheitas menores, impactadas por adversidades climáticas em importantes regiões produtoras no cinturão cafeeiro do Brasil, e pelo contexto do mercado internacional.
“Quanto mais longe de uma safra alta, como a de 2020, que foi recorde, menos café remanescente temos, impactando na oferta. Apesar de a Bolsa de Nova York ter se recuperado em janeiro e fevereiro, ainda está bem aquém dos níveis registrados em setembro, antes do início do movimento de queda, quando o produtor aproveitou a combinação de mercado e câmbio favoráveis, fez o dever de casa e vendeu o que era possível”, analisa.
Em relação à queda nos embarques de carnes, vale lembrar que do período de 22 de fevereiro a 23 de março, as vendas à China foram paralisadas por conta do autoembargo que o Brasil adotou após a identificação de um caso atípico (quando a doença se manifesta em um animal espontaneamente, e não por transmissão no rebanho) do mal da vaca louca em um animal no Pará.
Já entre os destinos com maior queda é a Europa, que recebeu 20% menos contêineres em fevereiro em comparação com o mesmo mês de 2022. Vale destacar que desde o início do conflito com a Ucrânia, a Rússia tem derrubando o comércio internacional na região.
Importações
Em relação às importações, o Brasil recebeu, em fevereiro, 181.050 TEUs contra 199.816 TEUs em fevereiro de 2022, uma queda de 9,4%. No acumulado do primeiro bimestre de 2023, a queda foi de 3,4%.
Confira a seguir um histórico das importações brasileiras via contêineres a partir de 2019. Os dados são do DataLiner:
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Perspectivas
O que os dados apontam? O início de uma tendência ruim para o ano? Ou um mês fora da curva?
Segundo relatório divulgado no final de março pelo Banco Mundial, as projeções indicam que o crescimento comercial seguirá em trajetória de desaceleração durante a próxima década, acompanhando a também decrescente economia global. Os efeitos de longo prazo da pandemia de COVID-19, a invasão da Ucrânia e o aumento das taxas de juros frearão a atividade econômica e o crescimento comercial até 2030, desacelerando 0,4 pontos percentuais ao ano em relação à década anterior). Uma tendência de longo prazo é a prática do reshoring ou nearshoring, que também proporcionará um efeito redutor no comércio, de acordo com os pesquisadores do Banco Mundial.
No mesmo sentido, a divisão de pesquisa do Mizuho Bank prevê que a demanda por transporte marítimo de contêineres cairá em 2023. A previsão é baseada em um estudo sobre as tendências atuais de oferta e demanda e previsões de curto prazo nas principais indústrias.
O Mizuho Bank acredita que o movimento de contêineres será mais lento em 2023, especialmente nos trades Ásia-Europa e Ásia-América do Norte, devido à queda do consumo e à normalização da demanda, que aumentou drasticamente desde o segundo semestre de 2020.
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