Siderurgia pressiona governo em meio à alta de importações
set, 28, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202339
A caminho de revisar para cima a projeção para as importações de aço em 2023, a siderurgia brasileira poderá suspender operações e vê risco de demissões “iminentes” no setor, caso a taxa de ociosidade permaneça nos atuais 40% e o governo não adote medidas emergenciais para coibir a entrada cada vez mais volumosa de produto importado, em especial da China.
Segundo o Instituto Aço Brasil, a previsão de crescimento de 25,6% das importações para este ano certamente será revista para algo entre 40% e 42%. “Dentro da minha larga vivência nesse processo de concorrência, estou extremamente preocupado”, disse o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, durante debate, nesta quarta-feira (27), no Congresso Aço Brasil 2023, entre os presidentes de siderúrgicas com operações no país.
No painel, a posição dos executivos foi unânime: se não houver elevação da alíquota de importação para 25% no curtíssimo prazo, a exemplo do que já fizeram países como Estados Unidos, México e os da União Europeia, haverá necessidade de adoção de medidas mais drásticas, como suspensão de operação e demissões. Na Gerdau, já são 600 funcionários com contrato de trabalho suspenso (lay-off), em várias unidades.
“Se não estamos vivendo uma tempestade perfeita, estamos enfrentando uma situação dramática”, disse o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula. Conforme o executivo, a multinacional investiu R$ 12 bilhões na siderurgia brasileira na última década e tem, no país, fábricas que são consideradas “benchmark” sob diferentes critérios dentro do grupo, mas a competição com o produto chinês é desigual.
O desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado brasileiro decorre principalmente do volume crescente das exportações chinesas para o país e a América do Sul, onde ainda não foram impostas barreiras à entrada desses produtos. Do excesso de capacidade de 567 milhões de toneladas no mundo, boa parte está concentrada na China, que hoje é alvo de 240 processos por práticas comerciais desleais.
Veja o gráfico abaixo para uma comparação mês a mês das importações da siderurgia brasileira (sh 72-73) de janeiro de 2019 e julho de 2023. Os dados são do DataLiner.
Importações brasileiras de aço | Jan 2019 – Jul 2023 | TEU
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Para o presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima, a elevação das importações da siderurgia brasileira em um momento de declínio do consumo aparente nacional configura uma tempestade perfeita. E esse problema é estrutural, e não apenas conjuntural. “É o segundo ano em que isso acontece e não há expectativa de que essa situação se atenue”, comentou.
Para o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, a vantagem da tempestade perfeita é que há fim. “Tenho uma visão otimista das oportunidades que o setor tem pela frente. Mas temos de resolver alguns problemas para ver o céu abrir no menor prazo possível”, disse, classificando as importações chinesas como “predatórias”.
Segundo o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, em 2000, a China representava 1,4% das importações brasileiras da indústria de siderurgia. Hoje, essa fatia chega a 54,2%, ou 1,7 milhão de toneladas. Enquanto outros países procuraram se defender do avanço chinês no comércio internacional, acrescentou, o Brasil acabou facilitando a entrada de seus produtos.
O setor já levou ao governo um pleito de elevar a 25% a alíquota de importação de aço, em caráter emergencial, mas tem enfrentado resistências. “Setores consumidores têm procurado o governo, sob o argumento de que o aumento da alíquota visa ao aumento de preços [no mercado doméstico]”, contou Marco Polo.
Essa argumentação, conforme os executivos, não encontra fundamentos, uma vez que a indústria experimenta hoje taxa de ociosidade de 40%. Portanto, uma elevação dos preços, na esteira da alíquota maior, não resultaria em vendas internas maiores para as siderúrgicas.
“Se não conseguirmos esses 25% [de alíquota de importação], há risco de a China bombardear o Brasil e nos obrigar a reduzir a capacidade em 10%, 20% ou 30%”, afirmou Jorge Gerdau. O empresário avalia que os métodos históricos de negociação do setor, adotados agora para atingir os 25% de alíquota de importação, não devem funcionar. Uma alternativa seria elevar a pressão junto aos congressistas. “Não vejo capacidade decisória pelos processos burocráticos convencionais. Estou sentindo insegurança do processo decisório governamental. Provavelmente vamos ter de mudar nossa atitude política”, disse.
Para Werneck, presidente da Gerdau, se medidas emergenciais não forem adotadas em 30 dias, há risco real de “danos”. “Temos 600 funcionários em lay-off. No Ceará, temos uma planta completamente parada, de Norte a Sul temos turnos que não estão operando”, afirmou.
De acordo com De Paula, da ArcelorMittal, a China tem hoje 200 milhões de toneladas de sobrecapacidade de aço e está instalando mais 100 milhões de toneladas, também subsidiadas pelo governo, ao mesmo tempo em que o PIB local perde tração. “Se continuar essa ociosidade de 40%, vamos [o setor] ter de parar plantas”, disse.
O executivo afirmou ainda que, em 2023, a ArcelorMittal Brasil vai produzir 1,3 milhão de toneladas a menos do que havia orçado inicialmente por causa desse cenário complexo no mercado interno. A companhia diz que pode produzir entre 15 e 16 milhões de toneladas por ano no país e a previsão original era operar a plena capacidade.
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