Brasil depende cada vez mais da China nas exportações de grãos
jan, 23, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202404
O Brasil depende cada vez mais da China para escoar suas exportações de grãos. E o gigante asiático, ao menos em 2023, tornou-se também o principal destino do milho brasileiro no mercado internacional. Esse cenário parece ter poucas perspectivas de mudança no curto prazo, e por isso é fonte de preocupação de especialistas.
Em 2023, a China adquiriu 75% (75,6 milhões de toneladas) das pouco mais de 101 milhões de toneladas de soja exportadas pelo Brasil, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Um ano antes, o país havia comprado 69% da soja brasileira enviada ao exterior.
“Ao olhar os números de maneira fria, eles assustam. O Brasil pode realmente diversificar os parceiros comerciais na soja, mas não há como deixar de exportar à China. Se algum país quer ser um grande player na soja precisa reunir condições de abastecer a China, e o Brasil tem essa vocação”, afirma Sérgio Mendes, diretor geral da Anec.
Ainda que a pauta sobre diversificar destinos sempre venha à tona, o dirigente não vê uma diminuição do apetite chinês pela soja brasileira. Jean Carlo Budziak, que integra a inteligência de mercado da Anec, segue o mesmo raciocínio. “Assim como falam que somos dependentes da China [nas exportações de soja], eles também dependem do nosso produto”.
Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSetor Consultores, diz que a dependência do Brasil para as exportações de grãos à China é uma situação difícil e duradoura. “Não conseguiremos fugir tão cedo dessa dependência, porque ela é expressiva e também há um comprometimento da base produtiva com essa exportação”, avalia.
A dependência fica evidenciada em dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) citados por Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). No ano passado, a China respondeu pela aquisição de 60,6% da soja exportada no mundo.
“Há necessidade de buscar outras alternativas de compradores de soja, mas a questão é onde encontrar importadores que tenham um peso tão relevante quanto a China”, diz Alves, acrescentando que o Brasil exportou soja para 57 diferentes países em 2023, um número recorde.
Produção da China
Tanto na visão dos dirigentes da Anec quanto do pesquisador do Cepea, a demanda chinesa deve seguir firme nos próximos anos, mesmo que Pequim invista em novas cultivares para aumentar a produção local de soja.
Mas, na avaliação de Silveira, os produtores devem se preparar para um novo momento, já que a China vem investindo para tentar diminuir as importações do Brasil. “É difícil dizer quando, mas em algum momento a China vai fazer valer os investimentos que tem feito para aumentar sua produção de alimentos”.
Segundo ele, “como não há nada que possa ser feito no curto e médio prazo, o Brasil precisa de uma política de Estado, pensando na diversificação de produtos do campo, com um investimento sólido na área de pesquisa agrícola”.
Na avaliação de Jean Carlo Budziak, da Anec, mesmo que a China queira aumentar sua produção local, esse é “um plano de médio prazo, portanto, não há condições de ela se tornar independente das importações do Brasil, que devem ficar em uma faixa de 70% nesta safra”. De acordo com as projeções mais recentes do USDA, o Brasil deve embarcar um total de 99,5 milhões de toneladas de soja na temporada 2023/24.
O gráfico a seguir compara o volume de milho e soja embarcados através dos portos marítimos brasileiros para a China nos primeiros onze meses de 2023, segundo o serviço de dados DaLiner.
Exportações de Milho e Soja para a China | 2023 | WTMT
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Milho
O ano de 2023 marcou, também, o primeiro em que o Brasil enviou milho de forma efetiva ao gigante asiático, após a aprovação de um protocolo fitossanitário no fim de 2022. E os números superaram as expectativas. Das 55,6 milhões de toneladas de milho que saíram dos portos brasileiros no ano passado, os chineses adquiriram 31% desse total, ou 17,4 milhões de toneladas.
“Nós não esperávamos essa demanda tão agressiva da China, já que a estimativa inicial era de embarques na casa das 5 [milhões] ou 6 milhões de toneladas. Muito menos que ela fosse ultrapassar já no primeiro ano de vendas tradicionais importadores como o Japão, Irã e Coreia do Sul”, comenta Mendes, da Anec.
A combinação de uma safra recorde de milho por aqui, quebra na produção americana, e problemas de logística no Mar Negro fizeram o Brasil se tornar o maior exportador de milho para a China em 2023, desbancando os EUA.
Neste ano, o cenário deverá ser diferente, já que o Brasil provavelmente colherá menos milho, enquanto os Estados Unidos esperam uma recuperação — o que também deve acontecer em outro grande fornecedor de milho chinês, a Ucrânia.
Outros países
De toda forma, diz Fábio Silveira, é fundamental que os exportadores de grãos brasileiros ampliem o comércio com demais países da Ásia, e também outros destinos com grandes populações. “Índia e Bangladesh seriam destinos interessantes para os grãos brasileiros, além da Rússia e até mesmo países do Oriente Médio. O Brasil não pode ‘dormir no ponto’ e esperar a China diminuir suas importações para buscar outros parceiros comerciais”, defende o analista.
Fonte: Globo Rural
Clique aqui para ler o texto original: https://globorural.globo.com/agricultura/soja/noticia/2024/01/brasil-depende-cada-vez-mais-da-china-nas-exportacoes-de-graos.ghtml
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