Porto de Santos é porta de entrada de carros chineses, mas importação eleva frete
ago, 26, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202435
O grande número de carros elétricos trazidos da China para o Brasil, em especial da BYD, causou um impacto muito grande em produtos com valor agregado mais baixo, em razão de um aumento em cascata que impacta os importadores que utilizamos portos brasileiros, como o de Santos. Entre os problemas está o aumento do frete marítimo, dos impostos de importação e do preço do transporte.
As importações cresceram no primeiro semestre deste ano, numa corrida antes que o reajuste no imposto de importação desses veículos entrasse em vigor, o que aconteceu no dia 1º de julho.A taxação foi para 25% do valor do veículo para modelos híbridos, 20% para híbridos plug-in e 18% para carros totalmente elétricos. Antes era de 10% para os três.
Em julho do próximo ano, esses índices irão para, respectivamente, 30%, 28% e 25%. No mesmo mês, mas em 2026, a taxa aumentará em 35% para os três tipos. Ou seja, as empresas tentarão mandar o máximo de carros antes de a taxa atingir o topo. Isso significa navios cheios e menos espaço sobrando.
“As montadoras chinesas têm aproveitado a oportunidade para migrar operações e acelerar o envio de carros, usando muito espaço nos navios de grande carga e convencionais e ocupando muitos contêineres, o que eleva o preço para transportar outros produtos, já que falta espaço nos navios e, quando há, o preço fica mais caro”, explica o especialista em logística, Lúcio Lage Rodrigues, que também é diretor da Process Log & Comex.
Rodrigues comenta que o frete internacional de um contêiner da China para o Brasil era menos de US$ 3 mil (aproximadamente R$ 16,3 mil) no começo do ano e, agora, está próximo dos US$10 mil (cerca de R$ 54,5 mil).
“Como os impostos da importação incidem sobre o valor do frete internacional, essa conta aumenta mais ainda. O impacto é geral em todos os tipos de produtos, que passarão a chegar mais caros no Brasil. Claro, produtos com valor agregado mais baixo, tendem a ser mais afetados pois terão um aumento porcentual mais significativo”, explica.
O preço do frete marítimo entra na base de cálculo dos impostos de importação, o que causa um impacto relevante no valor final dos produtos, lembra o especialista em logística.
“É um aumento em cascata porque são vários impostos e contribuições. As alíquotas se mantêm, mas a base de cálculo aumenta. Ou seja, sobem os valores de Imposto de Importação (II), Impostos sobre Produto Industrializado (IPI), PIS/COFINS, Impostos sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM). Como consequência, o preço final dos produtos aumenta”, lista.
O gráfico abaixo usa dados do DataLiner para comparar importações e exportações de contêineres de longo curso no Porto de Santos entre janeiro de 2021 e junho de 2024.
Movimentação de Contêineres em Santos | Jan 2021 – Jun 2024 | TEU
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Soluções
O vice-presidente da Federação Nacional dos Despachantes Aduaneiros (Feaduaneiros), Wellington de Jesus Victoriano, lembra que, mesmo nesse contexto de subida das taxas, por enquanto não se percebe a redução das importações desses veículos.
“Não só o Porto de Santos teve impacto (com o efeito cascata do aumento), mas outros também,como o do Rio de Janeiro, o de Vitória, no Espírito Santo, mais especificamente o Terminal de Vila Velha, o Porto de Suape, em Pernambuco, entre outros. Em geral, todo congestionamento logístico é um gargalo que impacta toda uma cadeia e pode aumentar os custos da operação,uma vez que a fluidez é que dinamiza o comércio exterior e lhe dá manutenção para mais negócios e rentabilidade”, analisa.
Rodrigues afirma que há alternativas logísticas possíveis. “Buscar por rotas com maior tempo de percurso (transit time), que possuem preços mais baixos. Outra possibilidade seria utilizar contêiner alternativo, como o contêiner refrigerado desligado (NOR), que em geral possui preços mais baixos”, sintetiza.
Situação ajuda indústria nacional
O aumento do imposto de importação dos carros elétricos e esse efeito cascata nos preços, pode também incentivar a indústria nacional para investir nessa produção, justamente pelo encarecimento dos custos.
“Acreditamos que sim. A importação é sempre uma porta para entrada de novas tecnologias e o aprimoramento da atual. Por exemplo, alguns modelos da BYD, gigante chinesa do ramo de carros elétricos, serão produzidos na fábrica de Camaçari na Bahia, uma nova era para aindústria automotiva brasileira”, afirma o vice-presidente da Federação Nacional dos Despachantes Aduaneiros (Feaduaneiros), Wellington de Jesus Victoriano.
O especialista em logística Lúcio Lage Rodrigues acredita que esse processo dependerá muito de questões governamentais, que passam por incentivos para que as montadoras venham para o País. “Essa é uma questão mais macro, mas pode haver, sim, incentivo, de uma forma ou de outra, mas isso é algo mais global”, completa.
Consonância
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços informou, em nota,que a retomada gradual do imposto de importação sobre carros elétricos está em consonância com a política governamental de incentivos à produção de veículos sustentáveis no Brasil já vem ocorrendo.
“Os incentivos estão presentes no Programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), lançado em dezembro/2023. O Mover estimula investimentos em novas tecnologias e aumenta as exigências de descarbonização da frota automotiva brasileira de carros, ônibus e caminhões. Desde o seu lançamento, as montadoras com fábricas no país já anunciaram investimentos de R$ 130 bilhões”, afirma, no texto.
Potencial
A pasta acrescenta que, assim, “a medida contribui para produção de conhecimento, emprego e renda no Brasil, além de aproveitar o potencial do País tanto em capacidade produtiva instalada quanto em diversificação da matriz energética e em tecnologias automotivas sustentáveis – por exemplo, a produção de carros elétricos híbridos a etanol, que está entre os investimentos já anunciados pelas montadoras”.
Fonte: A Tribuna
Clique aqui para ler o texto original: https://www.atribuna.com.br/noticias/portomar/porto-de-santos-e-porta-de-entrada-de-carros-chineses-mas-importac-o-eleva-frete-1.431584
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