Quilombolas e pescadores bloqueiam acesso a Suape
nov, 04, 2024 Postado porGabriel MalheirosSemana202444
Na manhã desta segunda (4), a comunidade quilombola de Ilha de Mercês, em Suape, Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco, fechou, em protesto, por volta das 6h, a principal rotatória que dá acesso ao complexo industrial portuário. A comunidade, onde vivem mais de 200 famílias, exige que Suape se comprometa a não remover nenhuma família de Mercês e que abandone as ações de reintegração de posse contra moradores do quilombo e demais territórios. Dezenas de famílias pescadoras também se juntaram ao protesto para exigir o pagamento de auxílio dragagem que havia sido negado pela administração de Suape.
Em setembro, Suape e Universidade de Pernambuco (UPE) assinaram um convênio para a “realocação e preservação cultural dos remanescentes do Quilombo Ilha de Mercês“. Segundo o comunicado conjunto das duas instituições na época, a intermediação do Instituto de Apoio à Universidade de Pernambuco (Iaupe) garantiria participação ativa da comunidade, do planejamento à implementação do processo que recebeu o nome de “Raízes em Movimento: projeto de realocação e preservação cultural dos remanescentes do Quilombo Ilha de Mercês”. A comunidade, porém, não aceita o projeto.
Além disso, o protesto reúne outras comunidades pesqueiras de Ipojuca que exigem que Suape pague o auxílio dragagem a outras famílias 89 pescadoras de Ipojuca que foram afetadas mas que tiveram o benefício negado. O valor do auxílio é um salário mínimo e uma cesta básica. A comunidade reivindica também que o complexo não realize dragagens no verão, período mais prejudicial ao ecossistema marinho, obedecendo a uma determinação da Justiça Federal; e desenvolva estudos de impacto ambiental referentes ao despejo de efluentes feito pelas empresas que compõem o complexo.
Pescadores e quilombolas assinam uma carta-protesto com diversos pontos que será entregue à Suape para uma tentativa de negociação.
À frente do bloqueio que impediu o acesso de veículos ao complexo portuário, Ednaldo de Freitas, conhecido como Nal Pescador, presidente da Associação de Pescadores e Pescadoras, deu entrevista explicando que estavam “protestando contra as violações de direitos por parte do Complexo Industrial Portuário de Suape, que há mais de 40 anos vem desrespeitando os territórios, desrespeitando a pesca, desconsiderando pescadores, obrigando pescadores pagando pra passar em pedágio, ameaçando deslocar uma comunidade do seu ambiente natural pra ser colocada ninguém sabe aonde dentro da cidade, onde não tem renda pra essas famílias”.
Enquanto faixas com as frases “Nenhum mangue a menos – nenhuma dragagem a mais” eram colocadas na estrada, Nal Pescador relatou que as famílias de Mercês foram surpreendidas pelo anúncio do convênio firmado entre a administração do complexo e a UPE: “não ouviram a comunidade, ficamos sabendo quando saiu no Diário Oficial. Em nenhum momento a comunidade quilombola de mercês foi chamada para participar de qualquer conversa ou diálogo como seria a realocação”.
Negociação e pressão da PM
Por volta das 9h30, com a chegada do diretor de sustentabilidade de Suape, Carlos Cavalcanti, os pescadores e quilombolas pressionam por algumas garantias e compromissos para poder liberar o trânsito. Em contato com a cúpula do complexo, Cavalcanti ofereceu 15 dias de prazo para avaliar cada uma das reivindicações, o que não foi aceito. A essa altura, a Polícia Militar insistiu para tentar reabrir o acesso base da força, mas não conseguiu.
Fonte: MarcoZero.org
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