Qual impacto da vitória de Trump nas discussões sobre o acordo Brasil-China diante da visita oficial de Xi Jinping?
nov, 06, 2024 Postado porSylvia SchandertSemana202442
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos materializa-se em meio a uma pauta sensível para a diplomacia americana, que está sobre o tabuleiro brasileiro: o presidente chinês Xi Jinping desembarca em Brasília no dia 20 de novembro, logo após a cúpula do G20, para uma visita oficial ao Brasil. A agenda traz o aumento da pressão pela adesão brasileira à “Nova Rota da Seda”, o trilionário projeto chinês de investimentos em infraestrutura.
Com a vitória de Trump na eleição americana, essa negociação com a China pode gerar turbulência na relação do Brasil com os Estados Unidos? A dúvida desponta porque o republicano defende uma política mais protecionista em relação ao comércio exterior, sobretudo em relação à China. Na campanha, ele prometeu ampliar a taxação sobre importações, em pelo menos 10% de forma linear, e em 60% para produtos chineses.
O incômodo com a eventual adesão brasileira ao “One Belt, One Road”, ou “Cinturãoe Rota”, em tradução livre, foi pauta do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), notório aliado de Trump, na semana passada. Ele conseguiu aprovar, na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, um requerimento para realização de audiência pública para debater a possível assinatura do acordo de investimentos entre Brasil e China. “Esse projeto também reflete a expansão do poder e da influência global da China que, devido ao seu regime político ditatorial, exerce essa
influência de maneira mais incisiva”, criticou.
Contudo, essa crítica não é exclusividade dos republicanos. O desconforto com essa pauta também havia sido manifestado pela chancelaria da gestão do democrata Joe Biden há algumas semanas, por meio de declarações da secretária de comercio exterior, Katharine Tai.
No entanto, a despeito da controvérsia, fontes do Itamaraty e das áreas política e econômica do governo afirmam que o Brasil adotará uma postura pragmática em relação ao tema, sem tomar partido de um lado específico. Afinal, a percepção é de que embate pela hegemonia geopolítica entre Estados Unidos e China extravasa a presidência de Biden ou de Trump por se tratar de uma disputa entre Estados, e não entre governos.
Nesse contexto, o esboço do acordo de comércio e investimentos que está sobre a mesa de negociações, a ser assinado entre Brasil e China, por ocasião da visita oficial de Xi Jinping, não implica a adesão “stricto sensu” do país à “Nova Rota da Seda”. O que está posto, segundo uma fonte diplomática, é um pacote que faça sentido “para um país com a dimensão e as demandas econômicas e sociais do Brasil”. Segundo esta fonte, essa conjuntura exige uma negociação diferente, que leve em conta as necessidades brasileiras, e “não, simplesmente, uma adesão ao pacote geral”.
Fontes ligadas ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Geraldo Alckmin, acrescentam que as discussões com a China envolvem as preocupações com salvaguardas à indústria brasileira. Há demandas do lado brasileiro pelo compromisso chinês com transferência de tecnologia, instalação de fábricas no país e fortalecimento da cadeia de produção, a fim de não se restringir o Brasil a um mercado consumidor.
Lula e Amorim
Em agosto, durante evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a intenção de assinar um acordo de investimentos com a China. “Os chineses querem discutir conosco a Rota da Seda e nós vamos discutir. Nós não vamos fechar os olhos, não”, afirmou. Mas, na sequência dessa fala, ele tentou acalmar o setor produtivo nacional: “Nós vamos dizer: ‘o que tem para nós? O que eu tenho com isso? O que eu ganho?’. Essa é a discussão”, resumiu.
Em entrevista ao Valor em setembro, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, confirmou a intenção do governo de assinar um acordo com a China. Mas ressaltou que o governo não vai se “apegar a nomes”. Ou seja, as tratativas não implicam, obrigatoriamente, a adesão ao pacto Cinturão e Rota. “Temos, os dois lados, que ver a se há possibilidade de abrir novos campos de cooperação com compromissos importantes de desenvolvimento e de investimento”.
Amorim também relativizou o desconforto dos Estados Unidos com as tratativas entre Brasil e China. “Eu acho que eles [EUA] vão compreender, vão entender que é natural. Nós vamos querer, sim, ter um acordo importante com a China. Já temos uma parceria estratégica. Acho que agora [o acordo Brasil-China] seria uma coisa de terceira geração: mais apoio, mais acordos também na área de tecnologia, assim como nós não recusamos ter bons acordos com os EUA”.
Exportações brasileiras para China e EUA
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2023, a barreira dos US$ 104 bilhões em exportações do Brasil para a China foi ultrapassada, baseada, principalmente, em minério de ferro, soja e carne. No entanto, embora os Estados Unidos tenham perdido para a China, em 2009, a posição de principal importador dos produtos brasileiros, o mercado americano continua sendo o maior destino das exportações de bens industrializados, incluindo produtos de alta tecnologia.
O gráfico abaixo revela o progresso das importações de contêineres provenientes da China nos portos brasileiros entre janeiro de 2021 e setembro de 2024. Os dados são do DataLiner.
Importações de contêineres provenientes da China | Jan 2021 – Set 2024 | TEUs
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Em 2023, as exportações de manufaturas brasileiras para os EUA totalizaram US$ 29,9 bilhões, superando o bloco europeu (US$ 23,5 bilhões) e o Mercosul (US$ 19,4 bilhões), segundo dados do estudo “Brasil-Estados Unidos: Um comércio exterior de destaque”, produzido pela Secretaria de Comércio Exterior do Mdic e pela Amcham Brasil.
Fonte: Valor Econômico
Clique aqui para ler o texto original: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/11/06/analise-qual-impacto-da-vitoria-de-trump-nas-discussoes-sobre-o-acordo-brasil-china-diante-da-visita-oficial-de-xi-jinping.ghtml
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