Portos e Terminais

“Cerca de 150 trabalhadores portuários estão passando fome e endividados”, dizem operadores do porto de Porto Alegre

jan, 30, 2025 Postado porSylvia Schandert

Semana202505

Cerca de 150 trabalhadores das empresas operadoras portuárias do porto de Porto Alegre, local sem qualquer operação desde outubro de 2024, estão “passando fome e endividados”, segundo relatou a gestora de uma das companhias, que não quis se identificar. De acordo com ela, que afirma ter conhecimento das relações com a Portos RS, estatal responsável pela gestão do local e da atividade portuária no Rio Grande do Sul, a causa é a burocracia da empresa em relação às dragagens da maioria dos canais necessários para a navegação na Capital.

Ela critica ainda uma pretensa atenção maior dada a Rio Grande em detrimento de Porto Alegre. “Estamos correndo o risco de termos de mandar pessoas embora. A dragagem é algo que demandamos há mais de dez anos, e a prioridade sempre foi Rio Grande, mesmo nos tempos de SPH e Deprec”, comentou ela, citando as autoridades portuárias anteriores.

“Quando vieram as enchentes de maio de 2024, nossa empresa ficou um mês debaixo d’água, e mais dois meses sem trabalho porque o porto não tinha luz. Não havia menor condição de fazer qualquer tipo de operação. Foram feitas inúmeras reuniões com as autoridades, alertando que a dragagem precisa ser para ontem. A quantidade de sedimentos que foi para dentro do Guaíba mostrou que a situação está mil vezes pior do que antes. Não foi por falta de aviso”, prosseguiu.

No final de outubro do ano passado, navios com cargas encalharam em sequência no canal de Itapuã, em Viamão, entre o Guaíba e a Lagoa dos Patos, devido ao acúmulo de sedimentos trazidos pelas cheias históricas de alguns meses antes. Isto fez com que, entre outras ações, o governo do Estado liberasse R$ 731 milhões do Fundo Rio Grande (Funrigs) para que a Portos RS faça a batimetria e a dragagem de 320 quilômetros de hidrovias interiores.

O problema, relata ela, não é o dinheiro em si, já que a estatal, de fato, praticamente concluiu a dragagem em Itapuã, mas questões burocráticas que impedem a realização do mesmo em outros canais essenciais, principalmente São Gonçalo, em Pelotas, Pedras Brancas e Leitão, na Região Metropolitana. O chefe da praticagem da Lagoa dos Patos, Geraldo Almeida, compara a situação à queda de sucessivas barreiras que interrompe totalmente o trânsito em uma estrada. “O trator chegou na primeira barreira e a liberou. Mas ainda faltam três ou quatro. É a mesma coisa”, diz ele.

Para resolver estas dragagens, há uma licitação em andamento, com cinco empresas interessadas. As duas primeiras já foram desclassificadas por problemas nos documentos, e a terceira, na realidade um consórcio, pode não ter uma draga suficiente para retirar 80 mil metros cúbicos de sedimentos por mês dos canais, como seria o necessário. Mesmo se a vencedora começar a operar conforme os prazos estabelecidos na documentação, o chefe da praticagem estima que os trabalhos somente iniciem no final de fevereiro, e o porto da Capital fique operacional para navios maiores um mês depois. Já a documentação que autoriza a operação com 6,50 metros de profundidade, o ideal para o porto, somente viria entre abril e maio, com as embarcações começando a chegar entre junho e julho.

“Os armadores já avisaram que não vão vir para Porto Alegre até que o porto tenha 6,50 metros e seja emitido um documento oficializando isso. Vamos perder mais de seis meses”. Por isso, Almeida diz concordar que a cobrança dos operadores portuários “é muito grande”. “É uma questão que interessa ao empresariado também”, relata. Com a crise dos navios, os armadores precisam ou desembarcar cargas no porto de Imbituba, em Santa Catarina, e trazê-las pela via rodoviária ao RS, ou subir de Rio Grande com meia carga, para não haver novos encalhes. Qualquer uma das opções encarece os custos, comenta Almeida, acrescentando que os donos dos navios estão cada vez menos dispostos a correr os riscos.

O que diz a Portos RS
O diretor de Gestão, Administrativo e Financeiro da Portos RS, João Alberto Gonçalves Júnior, afirmou que a demora não é por má gestão, mas sim em cumprimento à lei de licitações, inclusive com prazos recursais definidos, e que, se há disputas entre as companhias, são questões delas próprias. Ele negou ainda não haver diálogo com os operadores portuários. “Estamos fazendo tudo o que é possível, mas penso que é possível abrir um canal de comunicação para podermos conversar mais diretamente. Conversamos quinzenalmente, porém podemos não saber o que está acontecendo ‘na ponta’, com os operários. Nossa incumbência é com a questão da infraestrutura, então não sei como poderíamos ajudar estes operadores de maneira mais técnica. Mas é importante ouvir suas angústias”, comentou João, dizendo que a questão já seria vista na reunião da última quarta-feira.

Questionado sobre o prazo extenso para a liberação dos canais, o diretor disse que a abertura ocorre de maneira gradual, à medida em que as dragas concluem parte do serviço. Em se cumprindo todas as exigências, no começo de fevereiro, e não no final, é que o serviço nos canais faltantes inicie, declarou o diretor. “Com certeza, não levaremos seis meses para liberar a navegação. Fazemos constantes avaliações e vamos liberando a passagem de navios com mais 20, 50 centímetros”, avaliou.

No caso da dragagem do canal de Itapuã, onde a navegação interior já está liberada para navios com calado até 5,18 metros, João disse que foram utilizados recursos próprios da estatal, de maneira emergencial, mas que, para os demais citados, como são obras maiores, há um processo de “contratação inteligente”, afirmou o diretor, “ofertando mais competitividade no mercado, para tornar a contratação de fornecedores mais eficiente”, acrescentou, e a Portos RS não tem controle sobre quem irá se candidatar ao certame, de fato. Ele negou ainda saber que a terceira colocada tivesse problemas de documentação, assim como as duas primeiras.

Fonte: Correio do Povo

Clique aqui para ler o texto original: https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/cidades/cerca-de-150-trabalhadores-portu%C3%A1rios-est%C3%A3o-passando-fome-e-endividados-dizem-operadores-do-porto-de-porto-alegre-1.1574351

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