Projeções apontam impactos do coronavírus no agronegócio
mar, 17, 2020 Postado porSylvia SchandertSemana202013
O grande número de casos de coronavírus na União Europeia pode refletir no agronegócio brasileiro. Isso porque ela é um dos principais blocos compradores do Brasil e sua demanda por alimentos como carnes vinha crescendo em 2020. Agora, a expectativa de consultorias e entidades é que haja uma queda.
Carnes
De acordo com Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, “Com a determinação do isolamento social na Europa, a demanda por carnes deve cair nos próximos dois ou três meses, ou enquanto durar essa crise. Com a redução do volume, pode haver uma renegociação de preços”.
Com os países da União Europeia fora do jogo, a China, que já passou pela fase mais aguda da crise provocada pelo novo coronavírus, e está retomando sua rotina, pode pedir renegociação de contratos. “Certamente haverá um impacto em médio prazo, mas também uma retomada do consumo no segundo semestre”, diz.
Suco de laranja
A CitrusBR, que representa as indústrias exportadoras de suco de laranja brasileiras, disse que os embarques para a União Europeia, que é seu maior mercado, estão normais e que, durante a crise do coronavírus na China, nos últimos meses, o consumo de suco de laranja até aumentou no país. A bebida é rica em vitamina C, nutriente que ajuda no combate à gripe.
Grãos
Para o consultor Carlos Cogo, com base nos números do primeiro bimestre deste ano as exportações de grãos ainda não foram afetadas pelo avanço da pandemia. De acordo com ele, não houve no período grandes impactos na comercialização das commodities, e a queda nos embarques no acumulado de janeiro e fevereiro se deve aos problemas climáticos enfrentados no decorrer da safra 2019/2020.
“A queda das exportações de soja e milho é devida a questões internas, como atraso na safra, não tem a ver com o Covid-19. Os embarques aconteceram, a mercadoria está despachada e o processo aduaneiro, de entrada dessa mercadoria, é um problema a ser resolvido pelo país importador”, diz Cogo.
Segundo ele, a soja, no acumulado do primeiro bimestre, teve queda em volume de 9,6% em comparação ao mesmo período de 2019, principalmente devido à safra atrasada no mês de janeiro. Já o milho, registrou queda de 51,6% em volume ante o primeiro bimestre do ano passado. “O preço do milho está no maior patamar por conta da safra de verão, e as exportações acabaram sofrendo”, explica.
Na visão de Cogo, as exportações de milho deverão ser retomadas no segundo semestre, após a colheita da segunda safra. Ainda assim, ele afirma que os chineses estão aumentando as embarcações, já que o Brasil é responsável pelo maior volume de importação de produtos agrícolas à China. O alerta fica para o segmento de insumos, principalmente defensivos, vindos do país asiático.
“Se persistir o problema de embarcação, pode criar um problema para a safra 20/21. Não há nada oficial, mas pode haver algum reflexo no valor e velocidade no abastecimento. Já está criando preocupação em alguns produtores, mas ainda há todo o segundo semestre pela frente para observarmos”, ele alerta.
Algodão e setor sucroenergético
O diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht, avalia que as cadeias produtivas de açúcar e etanol e de algodão devem sentir mais os efeitos da pandemia de coronavírus sobre os mercados em relação a outros segmentos do agronegócio. Segundo ele, a tendência é, de um modo geral, uma redução de consumo, mas os alimentos seriam menos afetados.
“Os alimentos seriam menos afetados, porque, no final das contas, a população acaba consumindo de alguma maneira. Obviamente, existem algumas mudanças de padrão de consumo. Cada lugar vai ter uma cultura diferente”, analisa.
O consultor explica que os setores de açúcar e etanol e de algodão estão mais atrelados ao mercado do petróleo, que vem sofrendo forte baixa de preços nas últimas semanas. O movimento, além de ligado a incertezas trazidas pela pandemia, também foi afetado pelo impasse entre Arábia Saudita e Rússia em relação a ajustes de produção da commodity.
“O etanol cai por conta da gasolina. E o preço do açúcar caiu também. No algodão, o consumo já cai normalmente com o crescimento econômico baixo. Mas existe uma competição com as fibras sintéticas, que são afetadas por essa situação”, diz.
Fonte: Revista Globo Rural
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