Incerteza política na Argentina paralisa atividade econômica
out, 19, 2023 Postado porGabriel MalheirosSemana202341
A escalada do dólar nas duas últimas semanas e a incerteza política na Argentina a quatro dias da eleição presidencial levaram a uma paralisia da atividade econômica. O compasso de espera reflete a dificuldade de formar preço em meio a expectativas de aceleração da inflação e de mais desvalorização do peso após a votação deste domingo – como ocorreu nas primárias de agosto.
“Isso que está acontecendo é um sinal de que o nível de atividade está baixando, é uma forma de [o comerciante] se proteger”, diz o economista-chefe da Câmara Argentina de Comércio (CAC), Matías Bolis Wilson, referindo-se à paralisia, com comerciantes e produtores segurando seus produtos.
“Estamos vendo uma economia bastante desacelerada pela incerteza gerada pelo panorama eleitoral. Os três candidatos que obtiveram a maioria dos votos nas primárias propõem modelos econômicos bastante diferentes que poderiam romper com o modelo atual e, num contexto macroeconômico complexo, é natural que empresas, comerciantes… prefiram desacelerar suas vendas até que as perspectivas melhorem um pouco”, disse o economista Rocío Bisang, da Eco Go, ao jornal “Ámbito”.
Esperando para ver o que vai acontecer com o dólar e o peso, muitos comerciantes e fornecedores da indústria interromperam as vendas nos últimos dias. Isso porque a percepção é que o cenário para o câmbio muda totalmente dependendo do resultado que sair das urnas no dia 22, uma vez que os três principais candidatos têm propostas muito distintas. O governista Sergio Massa fala em fortalecer a moeda local, a representante do Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich, fala em uma economia bimonetária, e o candidato da ultradireita, Javier Milei, fala em dolarizar a economia argentina.
“O resultado eleitoral terá impacto na inflação e na quantidade de divisas do país”, explica Hernán Letcher, diretor do Centro de Economia Política Argentina (Cepa). “O que se vê agora é muita especulação, um cenário de ‘campo lamacento’, onde os principais agentes da economia argentina especulam via preços e acesso a dólares paralelos. O que está claro é que uma eventual vitória de Milei teria efeitos no dia seguinte em relação ao câmbio”, diz Letcher.
Para o porta-voz da Confederação Argentina de Médias Empresas (Came), Salvador Femenia, a alta constante da inflação também agravou a dificuldade na relação entre fornecedores e comerciantes. “Não é mais possível realizar o pagamento parcelado, então é preciso pagar tudo de uma vez, no momento da aquisição dos produtos, isso muda a forma de adquirir os produtos”.
A movimentação no comércio durante o feriado desta semana no país deu sinais dessa situação. A CAC observou que muitos comerciantes optaram por fechar as portas ao longo dos três dias, quando geralmente trabalham em ao menos um. Segundo Wilson, da CAC, uma desaceleração da atividade é algo esperado durante períodos eleitorais, mas neste ano isso foi agravado pelo aprofundamento da crise macroeconômica.
Em setembro, a inflação ao consumidor na Argentina subiu a mais 138% em termos anuais, impulsionada pela desvalorização de 18% do peso, anunciada pelo governo no dia seguinte às primárias de agosto.
No comércio exterior, as liquidações de exportação também estão quase paralisadas, apesar de o governo ter expandido seu programa de incentivo às exportações para outros produtos agrícolas e diversos setores da economia, como couro e energia. Por outro lado, a demanda por dólares para importações continua firme, com muitas empresas buscando antecipar operações, dada a incerteza sobre o que pode acontecer com a cotação do peso após o dia 22.
Fonte: Valor Econômico
Para ler a matéria original, acesse: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/10/19/incerteza-politica-na-argentina-paralisa-atividade-economica.ghtml
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